Usar Antiácidos em Bebês Aumenta o Risco de Fraturas, Aponta Estudo
Dados de mais de 870 mil crianças indicam que o uso de antiácidos aumenta os riscos de fraturas ósseas durante toda a infância.
O refluxo ácido – ou doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) – é uma condição comum e bem conhecida da população em geral. Apenas no Brasil, estima-se que ocorrem 2 milhões de novos casos por ano, e no mundo afeta de 40 a 65% de todos os bebês. Talvez por parecer tão ‘comum’, muitos pais costumam medicar seus filhos com antiácidos por conta própria, sem antes consultar um médico ou pediatra para ponderar a dosagem correta, a duração do tratamento e as consequências do uso desses medicamentos.
Pesquisas já haviam relacionado o uso de antiácidos, por exemplo, a um aumento das chances de fraturas ósseas em adultos. Agora, um novo estudo, apresentado no 2017 Pediatric Academic Societies Meeting, mostra que bebês com menos de um ano de idade que tomam antiácidos têm uma chance maior de sofrer fraturas ósseas, não apenas durante os primeiros anos de vida, mas ao longo de toda a infância.
QUASE TODAS AS CLASSES DE ANTIÁCIDOS AUMENTAM RISCOS DE FRATURAS
O trabalho analisou o histórico médico de mais de 870 mil crianças saudáveis, sem problemas ósseos congênitos, que nasceram entre 2001 e 2013 e foram tratadas pelo Military Healthcare System dos Estados Unidos.
Os dados desta enorme base de dados mostraram que pediatrias prescreveram antiácidos para aproximadamente 10% das crianças em seu primeiro ano de vida, incluindo anti-histamínicos H2 – como ranitidina (Zantac) e famotidina (Pepsid) – e inibidores de bomba de prótons (PPIs), como omeprazol (Prilosec) e pantoprazol (Protonix). Algumas crianças tomaram ambas as classes de medicamentos.
Com tantos antiácidos facilmente acessíveis nas farmácias para adultos, esses medicamentos podem parecer absolutamente inofensivos. Para muitos pais, administrá-los aos filhos, sem antes conversar com o pediatra, é prática comum
Os pesquisadores verificaram que crianças que usaram PPIs tinham uma chance 22% maior de sofrer fraturas ao longo da infância, enquanto crianças que usaram PPIs e anti-histamínicos H2 tinham uma chance 31% maior. O uso apenas de anti-histamínicos H2 não foi associado com um aumento imediato na chance de fraturas.
DIANTE DOS DADOS, PESQUISADORES RECOMENDAM CAUTELA
A pesquisa também identificou uma correlação entre o número de fraturas que as crianças sofriam e a duração do tratamento com antiácidos. Quanto mais nova a criança quando começava a tomar o medicamento, maiores as chances de sofrer uma fratura.
Os bebês com menos de 6 meses de vida que tomaram antiácidos eram os que tinham maiores chances de fraturar os ossos, enquanto que crianças com mais de 2 anos não tiveram um aumento significativo nas chances de fraturas quando comparadas a crianças que não tomaram esses medicamentos nos primeiros cinco anos de vida.
Por isso, como ressalta a principal autora do estudo, a médica e residente de pediatria no Walter Reed National Military Medical Center, Laura Malchodi, o uso de antiácidos na infância deve ser cuidadosamente avaliado.
“Com tantos antiácidos facilmente acessíveis nas farmácias para adultos, esses medicamentos podem parecer inofensivos”, diz ela. “Entretanto, nosso estudo corrobora um crescente corpo de evidências que sugere que antiácidos não são seguros para crianças, especialmente para crianças muito novas, e devem ser prescritos apenas para tratar casos confirmados e sérios de DRGE, e pelo menor tempo possível”.