Traumatismo Dental – quais são os tipos e o que fazer?
Conheça os tipos mais comuns de traumatismo dentário e quais são as condutas corretas em cada situação.
O traumatismo dentário é uma ocorrência muito frequente em crianças e adolescentes e gera um grande susto aos pais. As lesões traumáticas dentárias podem variar desde simples fraturas em esmalte até a perda definitiva do elemento dentário. Há uma predominância em indivíduos do sexo masculino, especialmente em idade escolar e em fase de crescimento, como consequência de quedas, brigas ou lutas, acidentes esportivos, automobilísticos, traumatismos com objetos e maus tratos (1-2).
Os traumatismos na dentição decídua ocorrem na idade pré-escolar. Nesta fase, as características comportamentais, como a curiosidade e a inquietação, levam a criança a explorar os ambientes; como não possui coordenação motora suficiente para evitar quedas e promover a autoproteção, a ocorrência de lesões é alta (3).
Por falta de conhecimento dos responsáveis, geralmente o primeiro atendimento ocorre em prontos-socorros, clínicas médicas e postos de saúde (4), o que pode acarretar um mau prognostico do trauma. O ideal é que o primeiro atendimento seja realizado de forma imediata por um cirurgião dentista e, nesse atendimento, seja realizado um exame clínico e radiográfico do paciente traumatizado para determinar o diagnostico inicial, a gravidade da lesão e o plano de tratamento. É de suma importância salientar que o sucesso do tratamento está diretamente relacionado com a rapidez e a eficiência dos primeiros socorros do paciente (5).
Conhecer a classificação, as características e as condutas dos traumas dentários auxilia no encaminhamento e orientação que deve ser dada aos pais das crianças traumatizadas. Trazemos esses dados logo a seguir (6,7,12).
CLASSIFICAÇÃO E CONDUTA DE TRAUMAS DENTÁRIOS
Classificação, características e condutas em fraturas dentárias e do osso alveolar
CLASSIFICAÇÃO: Fratura em esmalte e fratura em esmalte e dentina
Características: perda parcial de esmalte ou perda parcial de esmalte e dentina
Conduta: elemento fraturado deve ser armazenado em soro fisiológico para colagem (técnica de baixo custo e de resultados estéticos satisfatórios). Também pode ser feita a restauração convencional.
CLASSIFICAÇÃO: Fratura coronária
Características: fratura dental envolvendo esmalte, dentina e polpa
Conduta: O atendimento de urgência deve ocorrer em até três horas após o trauma, com intervenções menos invasivas e melhor prognóstico. Se houver fragmentos, proceder como descrito acima.
CLASSIFICAÇÃO: Fratura de coroa e raiz
Características: fratura de esmalte, dentina, cemento e polpa, podendo ocorrer tanto no sentido axial como horizontal, com presença de mobilidade.
Conduta: Se a fratura for no sentido horizontal, pode-se manter o elemento radicular por meio de técnicas de reposicionamento dental. É necessário o tratamento endodôntico pelo risco de necrose pulpar. O rápido atendimento após o trauma oferece melhor prognóstico. Na fratura vertical, o único tratamento é a extração do elemento dentário.
CLASSIFICAÇÃO: Fratura radicular
Características: fratura envolvendo dentina, cemento e polpa, com presença de mobilidade dental.
Conduta: reposicionamento dental e contenção rígida. Pode ser necessária a realização do tratamento endodôntico em alguns casos.
CLASSIFICAÇÃO: Fratura da parede e processo alveolar
Características: fratura envolvendo a parede óssea do alvéolo, impactando ou não o elemento dental.
Conduta: reposicionamento do fragmento e contenção rígida ou semirrígida, por quatro semanas. Necessidade de acompanhamento odontológico depois de quatro, oito, 24 semanas a um ano.
Classificação, características e condutas para luxação e avulsão dentária
CLASSIFICAÇÃO: Concussão
Características: lesão de tecidos de suporte, sem perda ou deslocamento do elemento dental.
Conduta: recomendar alimentos macios
CLASSIFICAÇÃO: Subluxação
Características: lesão de tecidos de suporte, com presença de hemorragia gengival
Conduta: recomendar alimentos macios e, se necessário, contenção semirrígida se ocorrer em mais de dois dentes, para conforto do paciente.
CLASSIFICAÇÃO: Luxação extrusiva
Características: o elemento dental se desloca parcialmente no sentindo axial do alvéolo dental. Presença de sangramento e aparência do dente alongada.
Conduta: reposicionamento do elemento dental e contenção semirrígida, por duas semanas.
CLASSIFICAÇÃO: Luxação lateral
Características: deslocamento irregular do elemento dental do alvéolo dental, que pode ser acompanhada por fratura ou esmagamento do osso alveolar.
Conduta: reposicionamento do elemento dental e necessidade de contenção semirrígida por quatro semanas. Pode ser necessária a realização de tratamento endodôntico.
CLASSIFICAÇÃO: Luxação intrusiva
Características: deslocamento do elemento dental em relação ao osso do processo alveolar. Clinicamente, a coroa se apresenta encurtada e existe sangramento gengival.
Conduta: pode ocorrer a re-erupção dental ou então necessidade de tração ortodôntica do elemento dental.
CLASSIFICAÇÃO: Avulsão
Características: perda total do elemento dental. Clinicamente, o alvéolo dental fica vazio ou preenchido com coágulo sanguíneo.
Conduta: O elemento dental deve ser armazenado imediatamente em leite gelado (4°C) para melhor conservação dos ligamentos. Também podem ser usados o soro fisiológico e a saliva. Se reimplantado em menos de 60 minutos, o prognóstico é favorável; porém, se houver demora ou se o dente for mantido seco ou em soluções não indicadas, o prognóstico é desfavorável, levando à perda permanente.
EM DENTES DECÍDUOS NÃO SE DEVE FAZER
O REIMPLANTE DENTAL.
Quando ocorre uma lesão na dentição decídua, os pais devem ser informados sobre possíveis complicações pulpares, formação de parúlide decorrente de fístula (aumento de volume externo, crescimento epitelial na superfície gengival, no qual termina a via de drenagem da fístula) e alteração de cor da coroa. Também é fundamental advertir os pais que o deslocamento do dente decíduo pode resultar em várias complicações graves nos dentes permanentes, incluindo hipoplasia de esmalte, hipocalcificação, dilacerações de coroa/raiz ou distúrbios de erupção. O acompanhamento periódico dessas injúrias é essencial para o diagnóstico de complicações subsequentes ao trauma, tanto na dentição decídua como possíveis sequelas na dentição permanente.
A evidência clínica e radiográfica de sucesso é caracterizada pela presença de um dente assintomático, com sensibilidade positiva ao teste pulpar, ausência de mobilidade, ausência de patologia periapical e no qual a raiz continua a se desenvolver com rizogênese completa (10).
As condutas e os procedimentos descritos nesse artigo têm como objetivo aumentar o conhecimento de profissionais de saúde sobre os traumatismos dentários e melhorar a qualidade da orientação aos pais ou responsáveis diante dessas situações, para que não ocorra negligência no tratamento. Isso pode acarretar em consequências como a alteração de cor, mobilidade, alteração na arcada dentária, sintomatologia dolorosa, sensibilidade, reabsorções radiculares ou ósseas, necrose e perda do elemento dental, gerando dificuldades de convívio social, baixa estima das crianças e problemas de relacionamentos futuros, principalmente pela ausência do elemento dentário (8-9).
Referências Bibliográficas
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