Coqueluche Grave pode deixar Sequelas Neurológicas
Analisamos estudo de fevereiro/2018 que lista potenciais sequelas e complicações em bebês acometidos por infecção de Bordetella pertussis.
Olá seguidor PortalPed! Nesta semana, comentamos um artigo da Pediatric Critical Care Medicine de fevereiro de 2018 que nos alerta para uma gama de complicações numa população especial de bebês. Eles foram acometidos por quadro grave de infecção por Bordetella pertussis. Saiba mais logo a seguir, neste artigo da semana comentado.
A coqueluche é uma doença prevalente em todo o mundo e, mesmo com a ampla cobertura vacinal, ainda ocorrem surtos, como em 2014 nos Estados Unidos, quando foram notificados mais de 28 mil casos no intervalo de 1 ano. A forma grave da doença normalmente acomete as crianças menores de 3 meses e está associada a taxas de mortalidade que variam de 5,5 a 14%. Sabe-se que existem fatores de risco associados a essa mortalidade, como a hiperleucocitose e a hipertensão arterial. Sabe-se, também, que existem complicações neurológicas agudas, como sangramento de sistema nervoso central (SNC), convulsões e encefalopatia. Entretanto, pouco se conhece sobre o seguimento a longo prazo dessas crianças e o impacto que a doença pode trazer em seu desenvolvimento.
O ESTUDO
- Cognitive Development One Year After Infantile Critical Pertussis
- Berger, John T.; Villalobos, Michele E.; Clark, Amy E.; Holubkov, Richard; Pollack, Murray M. et al
- Pediatric Critical Care Medicine: February 2018 – Volume 19 – Issue 2 – p 89–97
Este artigo é liberado somente para assinantes, porém vocês podem acessar o resumo aqui.
O objetivo desse trabalho foi avaliar o desenvolvimento neurológico das crianças acometidas por coqueluche grave no primeiro ano de vida, comparando os status no momento da alta e após um ano da alta hospitalar. Foram considerados casos a serem avaliados apenas quando houve confirmação laboratorial da infecção por Bordetella pertussis (PCR ou cultura) e que apresentaram gravidade suficiente para levá-los à unidade de terapia intensiva, com suporte ventilatório ou não, por ao menos 24 horas.
Este foi um estudo observacional de coorte, prospectivo, multicêntrico, americano, realizado entre 2008 e 2013. Houve financiamento do Eunice Kennedy Shriver National Institute of Child Health and Development e do National Institutes of Health (NIH).
DETALHES DO ESTUDO
Foram determinados como elegíveis 242 casos de coqueluche. Destes, 225 tiveram autorização dos pais para inclusão no estudo. Após 1 ano de seguimento, apenas 196 continuaram elegíveis (7 foram excluídos pois tinham mais de 1 ano de vida no quadro agudo, 3 famílias se negaram a continuar o estudo e 19 haviam morrido no intervalo de 1 ano). Desse total, 57% completaram todo o protocolo de avaliação proposto.
Conforme já dito anteriormente, foram considerados apenas os casos graves, admitidos em unidade de terapia intensiva por pelo menos 24 horas. Foi limitada também a idade no momento da internação, incluindo somente os menores de 1 ano de vida, e consideradas apenas as crianças com confirmação laboratorial da doença (por PCR ou cultura).
Os pesquisadores coletaram, por meio dos registros médicos e entrevistas com os médicos e familiares, diversos dados relativos à evolução da doença aguda, como:
- dados demográficos;
- antecedente de prematuridade;
- estado vacinal;
- doenças crônicas;
- história da doença atual;
- ocorrência de apneias;
- ocorrência de episódios de bradicardia;
- convulsões;
- paradas cardíacas;
- sangramento de sistema nervoso central;
- contagem de leucócitos;
- necessidade de oxigenação extracorpórea por membrana (ECMO).
A gravidade da doença foi determinada pelo escore PIM 3 (Pediatric Index of Mortality).
Tanto no momento da alta quanto no seguimento 1 ano após a alta foram avaliados:
- modo de alimentação (uso de sonda, gastrostomia ou por via oral);
- habilidade de comunicação;
- estado mental/grau de alerta;
- força muscular;
- tônus;
- uso de anticonvulsivantes.
Para auxiliar nessa avaliação neurológica do desenvolvimento e padronizar os resultados, foi aplicado o Mullen Scales of Early Learning (MSEL). Tal instrumento foi desenvolvido e validado para avaliação de crianças entre 0 e 68 meses. Ele aborda múltiplos aspectos das funções cognitivas e motoras, incluindo habilidades finas e grosseiras, percepção visual, linguagem corporal e interatividade. É utilizado, inclusive, para seguimento de crianças prematuras e portadoras de cardiopatias congênitas. Os resultados em cada aspecto da escala foram comparado de acordo com padrões de normalidade para cada idade, considerando-se resultado anormal aqueles abaixo de 2 desvios-padrão.
Discussão dos resultados
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