Estudo: aumento do peso materno eleva risco de malformações
Levantamento com mais de 1.2 milhão de crianças correlaciona aumento do peso da mãe a chances maiores de malformações, em especial as cardíacas.
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PORTALPED – Aumento do Peso Materno e Malformações
A obesidade está se tornando uma grave questão de saúde no mundo moderno, tanto em países de alta quanto de baixa renda. Os riscos relacionados a ela extrapolam os associados ao próprio indivíduo. Isso porque evidências recentes correlacionam um número cada vez maior de doenças fetais ao sobrepeso materno.
A obesidade é um problema crescente no mundo. Estima-se que, globalmente, o número de mulheres com 18 anos ou mais que apresentam IMC ≥35 dobrou, saltando de cerca de 50 milhões para 100 milhões entre 2000 e 2010. Dado o aumento exorbitante do número de mulheres em idade fértil que apresentam sobrepeso e obesidade, e pelas recentes evidências de aumento do risco de malformações congênitas com o aumento do IMC materno, um grupo de pesquisadores europeus conduziu um grande estudo populacional para avaliar com maior precisão essa correlação.
ESTUDO COMPAROU DADOS DE MAIS DE 1.2 MILHÃO DE CRIANÇAS
Um estudo de coorte populacional incluindo 1.243.957 nascidos vivos de gestações de fetos únicos, publicado este mês no British Medical Journal (BMJ), foi conduzido para estimar os riscos de malformações congênitas maiores em crianças, dependendo do peso de suas mães. Os nascimentos ocorreram entre 2001 e 2014, na Suécia.
Os dados dos filhos de mães abaixo do peso (índice de massa corporal (IMC) <18,5), com sobrepeso (IMC entre 25 e <30) ou com obesidades grau I (IMC entre 30 e <35), grau II (IMC entre 35 e <40) ou grau III (IMC ≥40) foram comparados com os dados de filhos de mães com peso adequado (IMC entre 18,5 e <25) no início da gravidez.
Na Suécia, os cuidados pré-natais e de nascimento são financiados com verba pública e atingem, desde 1973, quase 100% de participação das mulheres nos programas padronizados desses cuidados.
Os dados da gravidez, do nascimento e neonatais, bem como peso e altura das mães, fazem parte dos registros desse programa e são mantidos armazenados.
CRITÉRIOS & RESULTADOS DO ESTUDO
Para a elaboração dessa coorte, foram incluídas crianças que apresentavam qualquer malformação congênita maior, as quais também foram divididas em subgrupos de malformações específicas de cada órgão ou sistema que tenham sido diagnosticadas ainda no primeiro ano de vida. Estimaram-se os riscos relativos usando-se modelos lineares generalizados, ajustados para fatores maternos (tais como idade, altura, paridade, tabagismo no início da gestação, nível de educação, entre outros), sexo da criança e ano de nascimento.
É importante ressaltar que condições que estão ligadas à teratogênese – como por exemplo diabetes mellitus pré-gestacional e gestacional, infecções virais durante a gestação, gestações múltiplas, natimortos (cujas informações geralmente se encontravam incompletas), entre outros – foram excluídas do estudo para evitar vieses.
Os resultados mostraram que um total de 43.550 (3,5%) dessas crianças tiveram alguma malformação congênita maior. Dentre as malformações, o subgrupo mais comum foi o de defeitos cardíacos congênitos (n=20.074; 1,6%).
Comparadas com os filhos de mães com IMC normal (risco de malformações: 3,4%), as proporções e as probabilidades relativas de qualquer malformação congênita maior entre os filhos de mães com IMC elevado foram:
- sobrepeso: 3,5% e 1,05 (intervalo de confiança (IC) de 95%: 1,02–1,07);
- obesidade grau I: 3,8% e 1,12 (IC 1,08–1,15);
- obesidade grau II: 4,2% e 1,23 (IC 1,17–1,30); e
- obesidade grau III: 4,7% e 1,37 (IC 1,26–1,49).
Também notou-se que os riscos de malformações foram maiores em meninos, em filhos de mães tabagistas, primíparas, com baixa estatura e naquelas que não viviam com seus parceiros.
Os riscos de defeitos cardíacos congênitos, malformações do sistema nervoso central (SNC) e defeitos de membros também foram progressivamente maiores conforme o aumento do IMC de sobrepeso a obesidade grau III. Os maiores riscos relativos observados em um órgão específico e relacionados ao sobrepeso e aumento do grau de obesidade maternos foram para as malformações do SNC. Malformações genitais e digestivas também foram maiores em proles de mães obesas.
A IMPORTÂNCIA DE UM ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL – SEMPRE
Os autores concluíram que os riscos de malformações congênitas maiores – assim como vários subgrupos de malformações de órgãos específicos – aumentaram progressivamente com o sobrepeso materno, e também conforme elevou-se a gravidade da obesidade dessas mães.
Assim, ponderaram que malformações congênitas maiores são a principal causa de aborto na Suécia (legalizado irrestritamente antes de 18 semanas; necessária autorização de um comitê nacional entre as semanas 18 e 22, mas geralmente concedida quando se tratam de defeitos congênitos graves), e que a detecção pré-natal de malformações congênitas (especialmente as relacionadas a defeitos do fechamento do tubo neural) são mais difíceis de se obter em mulheres obesas, o que poderia aumentar a estimativa dos dados obtidos para esse grupo.
Com os dados conseguidos, até que novos estudos demonstrem outras causas para essa associação, recomenda-se que mulheres que estejam planejando engravidar sejam encorajadas a manter o IMC dentro dos valores de normalidade. Como a organogênese ocorre nas primeiras semanas de gestação, o ideal é que a preocupação com o peso e a aquisição de hábitos saudáveis ocorra antes da gravidez.