Serviços de Apoio Emocional para Estudantes de Medicina
O estudante de Medicina é mais vulnerável a transtornos psiquiátricos, revelam estudos. Saiba como proceder e ajudar este grupo de futuros profissionais de saúde.
O artigo escolhido para a estreia da seção Especialidades da Pediatria: Psiquiatria da Infância e da Adolescência foi publicado em 2009 pela revista eletrônica Innovations in Clinical Neuroscience * e discorre sobre a importância dos serviços de apoio emocional para os estudantes de Medicina. As peculiaridades inerentes à formação médica geram um impacto significativo no dia a dia de cada estudante, e é importante compreendermos como é possível ajudar os jovens mais vulneráveis a enfrentarem distúrbios psicológicos e psiquiátricos durante esta fase conturbada da vida.
O ESTUDO
- Medical Student Mental Health Services: Psychiatrists Treating Medical Students
- Julie P. Gentile, MD; and Brenda Roman, MD
- Psychiatry (Edgemont), volume 6, number 5, may 2009
INTRODUÇÃO
Os estudantes de Medicina enfrentam grande pressão psicológica durante a graduação, o que os torna mais vulneráveis a transtornos psiquiátricos (depressivos e de ansiedade, por exemplo), além de propensão a ter a Síndrome de burnout (estado de esgotamento mental e físico devido à exposição crônica a condições de trabalho desgastantes).
A tabela abaixo enumera, sucintamente, resultados de estudos relevantes sobre a saúde mental dos estudantes de Medicina:
ESTUDANTES DE MEDICINA E TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS: PESQUISAS RELEVANTES |
Dyrbye e colaboradores (2006) → houve evidências de prevalência de depressão e de ansiedade (sobretudo no sexo feminino) acima do esperado em relação à população em geral. |
Sreeramareddy e colaboradores (2007) → a prevalência de sofrimento psíquico significativo foi de 20,9%, e as fontes de estresse mais comuns foram as preocupações acadêmicas e psicossociais (incluindo expectativas elevadas por parte dos pais, conteúdo programático e avaliações excessivas, além de falta de tempo para a conclusão de tarefas). Dentre as estratégias de enfrentamento por parte desses estudantes, foram destacadas a reinterpretação positiva das fontes de estresse, o planejamento, a aceitação, a autodistração e o suporte emocional. O uso de álcool e de outras drogas foram estratégias de enfrentamento pouco utilizadas. |
Dyrbye e colaboradores (2008) → cerca de 50% apresentaram Síndrome de burnout e 10% ideação suicida. A Síndrome de burnout foi associada à maior probabilidade de ideação suicida subsequente, e a recuperação da Síndrome de burnout esteve associada à diminuição da ideação suicida. |
GRADUAÇÃO MÉDICA & SAÚDE MENTAL
Os primeiros anos da faculdade de Medicina (teóricos ou pré-clínicos) podem gerar estresse importante, devido ao ritmo acadêmico rigoroso, ao aumento de incidência de estressores psicológicos (incluindo situações de abuso e de trauma) e à necessidade de preparação para vários exames necessários à conclusão da graduação.
Alguns alunos, quando iniciam a fase clínica (prática) da graduação médica, sentem o aumento do estresse e da ansiedade, devido à necessidade de habilidades interpessoais e capacidade de trabalho em equipe, além de flexibilidade durante os rodízios em várias especialidades médicas. Esse aumento do estresse pode surgir, por exemplo, durante o rodízio de psiquiatria, em que há o estudo de transtornos psiquiátricos e a escuta de relatos traumáticos por parte dos pacientes. O contato com pacientes portadores de doenças terminais, além da escolha da carreira e das entrevistas para acesso às residências médicas, podem ser estressores adicionais.
O contato com pacientes portadores de doenças terminais, além da escolha da carreira e das entrevistas para acesso às residências médicas, podem ser estressores adicionais.
Quando os estudantes de Medicina passam por eventos de vida estressantes, como a morte de um familiar ou o fim de um relacionamento, eles geralmente terão limitação da capacidade de lidar com eventos estressores adicionais, devido às exigências curriculares impostas.
MECANISMOS DE DEFESA E OS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL
A maioria dos mecanismos de defesa (mecanismos mentais involuntários para superação de situações estressantes) utilizados pelos estudantes de Medicina são maduros, como o altruísmo. Porém, durante períodos de estresse acadêmico grave, essas defesas maduras podem regredir para aquelas denominadas neuróticas ou intermediárias – como a repressão -, além das imaturas, como a projeção.
A partir dos dados acerca da saúde mental dos estudantes de Medicina, é imperativo que haja serviços, dentro das faculdades, que permitam o encaminhamento dos candidatos potenciais a tratamento especializado. Para aqueles que apresentarem demanda para psicoterapia, o psiquiatra responsável deverá decidir qual o tipo mais apropriado para cada caso. Dentre as alternativas, há a psicoterapia psicodinâmica, a terapia cognitiva, terapia interpessoal, além da psicoterapia de apoio. Às vezes, há a necessidade de associação da terapia farmacológica.
CONCLUSÃO
Cursar a escola de Medicina remete a uma época em que o estudante enfrenta grandes angústias. Os transtornos psiquiátricos são mais comuns nesses estudantes quando comparados à população da mesma idade. Os serviços de saúde mental dos estudantes de Medicina devem estar disponíveis e acessíveis em todas as escolas.
O auxílio aos alunos em sofrimento psíquico promove a resiliência necessária ao futuro profissional médico e a sua realização pessoal, além do aprimoramento do profissionalismo e do atendimento ao paciente. Aqueles que forem encaminhados a uma das modalidades de psicoterapia devem ser avaliados em relação aos seus traços de personalidade, mecanismos de defesa e estilos de enfrentamento dos seus problemas.
* publicada anteriormente como Psychiatry [Edgemond]