Conseguimos aliviar a cólica do lactente?
Metanálise publicada no Pediatrics avalia se uso de Lactobacillus reuteri é eficiente no tratamento da cólica do lactente. Veja nosso resumo dos resultados.
Olá, seguidor do PortalPed! Hoje, trazemos para você um resumo de artigo de metanálise, publicado no Pediatrics de janeiro de 2018, recém saído do forno, coordenada pela equipe do Royal Children´s de Melbourne, mas com a participação de especialistas de diversos outros centros ao redor do mundo. Parece ser um trabalho que fortalece as evidências de que, de alguma forma, podemos ao menos aliviar um problema que angustia tanto as famílias com bebês pequenos: a cólica do lactente.
Fornecemos o link para download do artigo no box do início do texto. Boa leitura!
De acordo com os critérios de Wessel modificados, definimos cólica do lactente quando o bebê chora inexplicavelmente ou emite ruídos de desconforto por mais de 3 horas por dia, por pelo menos 3 dias da semana. É uma condição que afeta mais de 20% dos lactentes abaixo dos 3 meses de vida. É uma causa comum de suspensão precoce do aleitamento materno, da depressão materna e de síndrome de bebê sacudido.
Atualmente, começam a surgir alguns indícios de que a cólica pode ter correlação com o desenvolvimento de alergias alimentares, problemas de desenvolvimento e distúrbios do sono. Apesar de tudo, não se sabe ao certo sua fisiopatogenia e, até o momento, não temos opções terapêuticas altamente eficazes. Sabe-se, porém, que é benigna e auto-limitada. Por isso, a orientação aos pais e cuidadores segue sendo a principal arma de nosso arsenal.
A orientação aos pais e cuidadores segue sendo a principal arma de nosso arsenal
Outro fato conhecido é que há diferenças na microbiota intestinal entre bebês que têm cólica do lactente quando comparados com os que não têm. Por esse motivo, diversos probióticos estão sendo estudados como possíveis opções terapêuticas para alívio desse sintoma que incomoda tanto as famílias e os bebês.
O ESTUDO
- Lactobacillus reuteri to Treat Infant Colic: A Meta-analysis
- Valerie Sung, Frank D’Amico, Michael D. Cabana, Kim Chau, Gideon Koren, Francesco Savino, Hania Szajewska, Girish Deshpande, Christophe Dupont, Flavia Indrio, Silja Mentula, Anna Partty, Daniel Tancredi
- Pediatrics. January 2018, VOLUME 141 / ISSUE 1
TRATAMENTO DA CÓLICA DO LACTENTE COM LACTOBACILOS: DESENHO DO ESTUDO
O presente estudo é uma metanálise que selecionou na literatura quatro trabalhos randomizados controlados com o uso do Lactobacillus reuteri DSM17839 para o tratamento da cólica do lactente. Essa é uma cepa de Lactobacilo registrada pela empresa sueca BioGaia, e comercializada no Brasil pela Aché.
Para aumentar o poder do resultado gerado pela metanálise, a análise estatística foi robusta e uma estratégia de extração de dados individualizada foi empregada – ou seja, ao invés de analisar o resultado final, os pesquisadores utilizaram os dados brutos de cada paciente, de cada pesquisa. Convidaram os autores principais de cada um dos 4 estudos a participarem e, durante quase 2 anos, se debruçaram sobre cada um dos dados.
A pesquisa buscou analisar, como objetivo primário, se há benefício do uso desse probiótico específico após 21 dias de tratamento. Foi estudado também, como objetivo secundário, se há benefícios com 7 e 14 dias de tratamento. Ainda, foi incluída na análise a interferência ou não de quatro fatores: tipo de amamentação, exposição/uso de inibidores de bomba de prótons, uso de fórmulas hipoalergênicas no grupo de crianças alimentadas com fórmulas lácteas e uso de dieta de restrição para cólicas em nutrizes de lactentes em aleitamento exclusivo.
Os quatro estudos selecionados são de países diferentes: Itália, Canadá, Polônia e Austrália. No total, foram obtidos dados de 345 crianças, com uma idade média de 5,9 semanas. Foram excluídas as crianças que tiverem utilização prévia de antimicrobianos, por qualquer que tenha sido o motivo. Desta população, 174 crianças utilizaram o probiótico e 171 utilizando placebo. Somente o estudo australiano incluiu crianças alimentadas com fórmulas. Nenhum estudo reportou efeitos colaterais do uso do L. reuteri.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
O tempo de choro/irritabilidade foi reduzido ao longo do tempo de observação, tanto no grupo placebo quanto no grupo tratamento. Entretanto, houve uma redução mais intensa e estatisticamente significativa no grupo que utilizou o probiótico. Além disso, estatisticamente, concluiu-se que a chance de sucesso de tratamento com o probiótico é o dobro quando comparado ao placebo. A redução média do tempo de choro foi aproximadamente 25 minutos/dia maior no grupo de tratamento.
O tratamento com probiótico apresentou 2x mais chances de sucesso do que com o placebo
Este efeito positivo, quando analisado de acordo com o tipo de aleitamento, foi visto nas crianças em aleitamento materno exclusivo e não foi tão assertivo nas crianças que utilizaram fórmulas (estudo australiano). Nesse grupo de crianças em aleitamento exclusivo, a redução do tempo de choro foi ainda maior, de cerca de 46 minutos/dia (A média inicial de tempo de choro ou irritabilidade foi 260 minutos/dia).
Limitações do estudo
Na própria discussão do artigo, os autores discorrem sobre algumas limitação do trabalho, como o uso de diferentes métodos para documentar o tempo de choro dos bebês, assim como maneiras não padronizadas de definição do estado de irritabilidade (movimentação corporal, alteração de comportamento e emissão de sons – atitudes demonstrando desconforto). Também levam em consideração, como aspecto negativo, que somente o estudo australiano analisou as crianças utilizando fórmulas lácteas, incluindo fórmulas hipoalergênicas, e bebês utilizando medicações como inibidores de bomba de prótons.
CONCLUSÕES DO ESTUDO
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