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Introdução Precoce de Ovos na Alimentação Infantil e o Combate à Desnutrição

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O ovo – alimento barato e fácil de preparar – pode ser um forte aliado no combate à desnutrição infantil. Novo estudo analisa seu impacto nutricional e no crescimento.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu como alvo o ano de 2025 para diminuir em 40% a desnutrição na forma definida como stunting (baixa estatura para a idade). Ela estima que, em 2016, havia 155 milhões de crianças <5 anos com baixa estatura e 52 milhões com baixo peso para a idade (wasting). [1] Se a tendência do ritmo de diminuição se mantiver como hoje, no entanto, falharemos nesse objetivo em aproximadamente 27 milhões de crianças.

As consequências da falha no crescimento são bem conhecidas, como o aumento da mortalidade e a perda do potencial de desenvolvimento

Muitas intervenções alimentícias, como a introdução de alimentos fortificados ou de suplementos, têm sido propostas para erradicar a desnutrição infantil, mas em regiões afastadas e em países de baixa renda a dificuldade de abastecimento desses alimentos à população pode constituir um obstáculo.

Pensando nisso, pesquisadores da Univerdad San Francisco de Quito, no Equador, em colaboração com instituições americanas, decidiram analisar o impacto que alimentos locais, facilmente disponíveis e baratos, teriam nesse cenário. O ovo preenche essas características, é fácil de ser preparado e armazenado e fornece >50% das necessidades de nutrientes essenciais para lactentes em amamentação, além de oferecer proteção imunológica.

O estudo, randomizado e controlado, foi realizado em uma região rural do país – a província de Cotopaxi – em que a prevalência de baixa estatura é bastante elevada, atingindo 42,3% das crianças <5 anos, o que excede em muito a média nacional equatoriana (25,2%).

criancas do equador - estudo ovos pediatria

O temor das manifestações alérgicas a determinados alimentos quando se inicia a transição para alimentos sólidos é um assunto que aflige pais e pediatras. Apesar dos benefícios nutricionais, o ovo foi até recentemente visto com certa insegurança e já teve recomendações bastante específicas: iniciar primeiro a gema aos seis meses, oferecer a clara apenas após um ano de idade. Mas evidências recentes têm colocado por terra sua importância como um agente alergênico quando iniciado para lactentes <1 ano. [2,3,4,5]

 

 

O ESTUDO

Foi dado o nome de Projeto Lulun ao estudo. Lulun significa “ovo” em Quíchua, língua falada pelo povo indígena de mesmo nome que habita as regiões andinas de diversos países, entre eles o Equador.

No estudo, foram incluídos 163 lactentes de 6 a 9 meses, divididos em um grupo controle (83 crianças), para o qual não houve intervenção da equipe na prática alimentar instituída pela família, e um grupo de estudo (80 crianças), para o qual a equipe orientou a família a oferecer um ovo de tamanho médio (aproximadamente 50 g) por dia durante o período de estudo, concluído em 6 meses.

Os ovos eram fornecidos semanalmente às famílias e obtidos de fazendas avícolas da região. É importante ressaltar que, para participar do estudo, apenas crianças nascidas de gestações únicas, sem comorbidades (malformações ou desnutrição aguda grave prévia), saudáveis e sem histórico de alergia ao ovo foram selecionadas.

Foram feitas visitas semanais às famílias, que eram relembradas, no grupo de estudo, a alimentar um ovo por dia à criança envolvida no estudo. A equipe anotava informações sobre o fornecimento do ovo, o consumo de ovos pela criança na semana antecedente e quaisquer morbidades apresentadas (como por exemplo exantema, diarreia, febre ou tosse). As visitas também eram feitas semanalmente às famílias do grupo controle, bem como a monitorização de morbidades.

 

RESULTADOS

Como esperado, observou-se uma diferença positiva e estatisticamente significativa na prevalência de crianças que consumiram ovos no grupo estudado em relação ao grupo controle. Ambos os grupos relataram um aumento no consumo de alimentos e bebidas açucarados, tais como chocolates, doces, bolos e biscoitos, mas esse consumo foi 29% menor no grupo estudado do que no grupo controle. Refrigerantes foram consumidos também em ambos os grupos, sendo 10% menor no grupo estudado (sem diferença significativa, no entanto).

A prevalência de baixa estatura no início do estudo foi de 38%, com as crianças do grupo de estudo mostrando uma maior prevalência de baixa estatura e baixo peso do que as do grupo controle. As curvas de medidas antropométricas no grupo estudado, ou seja, altura para a idade, peso para a idade, peso para a altura e índice de massa corporal (IMC), entretanto, mostraram, ao longo do projeto, melhores desempenhos do que aquelas do grupo controle.

Houve uma redução de 47% na prevalência de baixa estatura no grupo que recebeu o ovo, sem mudança na curva das crianças do grupo controle, além de uma redução de 74% na prevalência de baixo peso. As curvas de peso para a idade e de IMC também mostraram melhoras.

 

quebrando o ovo - nutricao para criancas

Nenhuma criança desenvolveu reações alérgicas imediatas após o consumo de ovos. Sintomas respiratórios, como tosse, coriza e congestão nasal, além de febre, não tiveram alterações entre grupos, nem tiveram mudanças no que foi relatado no início e no fim do estudo. Diarreia foi mais frequente no grupo que recebeu o ovo (26%) do que no grupo controle (15%). Esse sintoma teve aumento de 5,5% no grupo estudado ao final do período quando comparado com os dados obtidos no início dele – mas, conforme os resultados, não constituiu um entrave ao crescimento e desenvolvimento dessas crianças.

 

DISCUSSÃO – QUANDO PODEMOS INCLUIR O OVO NA DIETA DAS CRIANÇAS?

Os autores consideram que esse aumento da diarreia pode ter sido causado por algum tipo de alergia não mediada pela imunoglobulina E – ou mesmo por alguma doença associada ao consumo de ovos preparados de maneira inadequada -, mas não descartam a possibilidade de viés nas queixas devido a atitudes e preocupações sobre problemas gastrointestinais relacionados ao consumo de ovos por crianças muito pequenas.

receitas com ovos - pediatriaOvos são considerados alimentos nutricionalmente completos, são extremamente baratos, naturalmente protegidos e de fácil acesso na maioria dos países de baixa renda e com alta prevalência da desnutrição. Possuem altas concentrações de colina, nutriente associado ao crescimento em modelos animais, além de insulin-like growth factor 1 (IGF-1), outro fator promotor de crescimento conhecido na literatura.

O trabalho apresentado mostrou que estes alimentos podem ser oferecidos com bastante segurança a crianças a partir dos 6 meses, idade em que geralmente se inicia a transição do leite materno exclusivo para alimentos sólidos, com resultados dramáticos no crescimento e desenvolvimento dessas crianças.

Não há como inferir, por este estudo, que apenas a gema ou apenas a clara do ovo tiveram impacto nos resultados, de maneira que os autores recomendam a administração do ovo inteiro.

O artigo pode ser acessado na íntegra clicando no link abaixo.

Clique aqui para acessar o estudo!

 

 

BIBLIOGRAFIA

  1. Organização Mundial de Saúde. Disponível em: http://apps.who.int/gho/data/node.wrapper.nutrition-2016?lang=en. Acesso em 12 de julho de 2017.
  2. Greer FR, Sicherer SH, Burks AW; American Academy of Pediatrics Committee on nutrition; American Academy of Pediatrics Section on Allergy and Immunology. Effects of early nutritional interventions on the development of atopic disease in infants and children: the role
    of maternal dietary restriction, breastfeeding, timing of introduction of complementary foods, and hydrolyzed formulas. Pediatrics. 2008;121(1):183–191
  3. Bellach J, Schwarz V, Ahrens B, et al. Randomized placebo-controlled trial of hen’s egg consumption for primary prevention in infants [published online ahead of print August 12, 2016]. J Allergy Clin Immunol. doi:10.1016/j.jaci. 2016.06.045
  4. Palmer DJ, Metcalfe J, Makrides M, et al. Early regular egg exposure in infants with eczema: a randomized controlled trial. J Allergy Clin Immunol. 2013;132(2):387–392.e1
  5. Boye JI. Food allergies in developing and emerging economies: need for comprehensive data on prevalence rates. Clin Transl Allergy. 2012;2(1):25
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Antonio Junior

Médico pediatra especializado em medicina intensiva pediátrica, com graduação e especialização pela Unicamp.

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