Mercado de Ações: Ganhe mais vendendo as ‘Opções’
Descubra o que é a venda coberta de remuneração e como lucrar vendendo as chamadas ‘opções’ sobre sua carteira de ações.
dos primeiros passos ao primeiro milhão
Francinaldo Lobato Gomes *
GANHE MAIS
VENDENDO OPÇÕES
INTRODUÇÃO
O mercado de ações é muito versátil e oferece muitas possibilidades para todos os perfis de investidores. Uma vez montada uma carteira de ações de empresas boas e lucrativas, vocês passarão a receber parte do lucro das empresas na forma de proventos, em quantidade proporcional ao número de ações que vocês têm. Portanto, quanto mais ações na carteira, mais proventos receberão.
Usem os ganhos com os proventos para comprar mais ações e, com isso, aumentar ainda mais o tamanho da carteira. Este é um círculo virtuoso que proporcionará o crescimento progressivo da carteira de ações ao longo do tempo.
Assim, vocês usarão duas fontes de recursos para remunerar a carteira de ações:
- Aportes regulares provenientes do planejamento financeiro
- Ganhos com proventos
No entanto, existe uma terceira fonte de obter ganhos com a carteira de ações e que ainda é pouco explorada, mas que proporciona rendimento extra. Esta fonte extra é a chamada venda coberta de remuneração, isto é, a venda de opções sobre as ações que se tem na carteira.
A venda coberta de remuneração é implementada em duas etapas. A primeira etapa consiste na compra de ações, isto é, na montagem de uma carteira de ações de empresas boas e lucrativas (já vista no texto anterior). A segunda etapa consiste na venda de opções sobre estas ações.
Neste texto, vocês aprenderão como funciona o mercado de opções e como implementar a segunda etapa da estratégia (venda coberta de remuneração).
HISTÓRIA DO MERCADO DE OPÇÕES
As opções foram usadas primeiramente em 1634, na Holanda, no mercado de tulipas. Naquela época, as tulipas representavam status para quem as possuísse. Isto provocou aquecimento do mercado e fez aumentar a volatilidade dos preços. Em consequência, houve também aumento no risco, porque não havia como calcular o preço de mercado das tulipas no mês seguinte. Como os lojistas tinham que encomendar as tulipas dos floricultores com antecedência, pagando o preço atual, eles corriam o risco de ver o preço despencar até a entrega, o que os levaria a ter prejuízos. Porém, se os lojistas não encomendassem as tulipas com antecedência, corriam o risco de ver o preço subir, obrigando-os a pagar mais caro (ver figura).
Para resolver esta questão, os lojistas passaram a negociar com os floricultores o preço futuro das tulipas de forma antecipada. Uma vez que os floricultores também corriam risco (custo variável da produção e variações climáticas), para negociar antecipadamente o valor das tulipas com os lojistas houve a necessidade de cobrar um sinal como garantia. No mercado financeiro, este sinal chama-se prêmio. Assim, os lojistas passaram a adquirir, dos floricultores, uma opção de compra de tulipas, a um valor predeterminado (preço de exercício ou strike) e com um prazo limitado (vencimento).
Os lojistas pagavam uma pequena taxa aos floricultores para adquirir o direito futuro de comprar as tulipas pelo preço previamente combinado. Os floricultores, por sua vez, assumiam o compromisso (obrigação) de entregar as tulipas pelo preço predeterminado, somente se os lojistas fizessem questão de exercer o direito. Se os lojistas não exercessem o direito, os floricultores ficavam com o valor dado como garantia, isto é, com o prêmio. Percebam que os lojistas negociavam com os floricultores um direito futuro, mas não uma obrigação. Assim, os lojistas apenas exerceriam o direito se fosse interessante para eles; se não fosse interessante, ao término do prazo, os lojistas simplesmente ignorariam, perdendo o pequeno prêmio que foi pago.
Observem que tanto os lojistas quanto os floricultores tiveram benefícios com este tipo de negócio. Caso o preço das tulipas despencasse, os lojistas não teriam que comprar as tulipas dos floricultores por um preço maior que o preço de mercado, arcando somente com a pequena taxa que foi paga. Neste caso, o prejuízo dos lojistas se resumiria ao valor do prêmio pago.
Se o preço das tulipas disparasse, os lojistas exerceriam o direito, comprando as tulipas por um preço inferior ao preço de mercado e revendendo-as com lucro.
Os floricultores, por sua vez, também lucraram, porque receberam antecipadamente uma parte do pagamento pelas tulipas. Este pagamento antecipado de parte do valor já poderia ser utilizado para o plantio imediato de uma quantidade extra de tulipas ou mesmo para outros fins.
Enfim, o mercado de opções fez com que tanto os lojistas quanto os floricultores tivessem seus riscos reduzidos.
Embora as opções possam ser usadas de diferentes formas, elas foram criadas para reduzir riscos, isto é, para dar proteção aos investidores (hedge). E é isso que mostraremos ao longo deste capítulo.
DESMISTIFICANDO O MERCADO DE OPÇÕES
Opções são contratos futuros entre comprador e vendedor. O comprador de opções compra o direito (mas não a obrigação) de comprar as ações por um preço previamente combinado (chamado preço de exercício ou strike) e durante um determinado período de tempo. Para ter esse direito, o comprador paga um prêmio em dinheiro ao vendedor. O vendedor, por sua vez, fica obrigado a vender as ações pelo preço previamente combinado, apenas se o comprador desejar. Por conta dessa obrigação, o vendedor de opções ganha o prêmio do comprador. Se o tempo acabar e o comprador não exercer seu direito, o contrato acaba e o prêmio fica com o vendedor, que poderá vender novamente opções para outro comprador, repetindo o processo. Caso o comprador decida exercer seu direito, ele comprará as ações do vendedor pelo preço combinado. Reparem a semelhança com o mercado de tulipas.
Uma das grandes questões relacionadas ao mercado de opções é a ideia equivocada de que “é preciso ser um expert” para entender e lucrar com este mercado. O que mais tenho visto em blogs e videos é a mensagem de que, para lucrar com o mercado de opções, é preciso ter muito conhecimento e expertise, caso contrário você perderá dinheiro.
Como visto acima, opções são instrumentos de proteção. Assim, se forem usadas com a finalidade de proteção, não há como perder dinheiro! Muito pelo contrário. Os ganhos proporcionados pela venda de opções ajudarão no crescimento da carteira de ações.
“A simplicidade é a sofisticação máxima”. Esta frase vale para qualquer coisa, inclusive para os investimentos. Vou mostrar a vocês como o mercado de opções é simples, fácil de ser usado e como ele proporciona ganhos constantes, sem que se tenha que abrir mão da segurança e da tranquilidade.
Sempre que alguém me pergunta se é preciso ser um expert para lucrar no mercado de opções, eu respondo com outra pergunta: “É preciso entender de circuitos integrados para usar um smartphone?”. De fato, meu filho só tem três anos de idade e utiliza muito bem estes aparelhinhos.
O mercado de opções está presente em nosso cotidiano. Vocês duvidam? Todos nós negociamos opções rotineiramente e nem percebemos.
Vejamos um exemplo. Ao contratar um seguro de automóvel, por exemplo, nós compramos o direito de comprar um determinado serviço (conserto do carro em caso de dano ou mesmo a substituição de todo o veículo em caso de perda total) por um preço pré determinado (valor da franquia) e pelo prazo de um ano. Para ter esse direito, pagamos o valor do seguro (prêmio) para a seguradora. Se, ao final do prazo, não exercermos nosso direito, isto é, não utilizarmos o seguro, o contrato acaba e teremos que fazer outro contrato. Nesta situação, a seguradora ficará com o dinheiro do prêmio pago. Se exercermos o direito, a seguradora terá a obrigação de fazer o serviço e pagaremos apenas o valor da franquia.
Reparem que tanto nós, compradores do seguro, quanto a seguradora, tivemos os riscos reduzidos pelo seguro.
Nós saberemos exatamente o valor que teremos que pagar caso usemos o seguro, isto é, o valor da franquia, mesmo que haja perda total do veículo. Portanto, não importa quanto o serviço esteja custando no mercado, o valor que pagaremos é fixo e previamente determinado.
A seguradora, por receber o prêmio antecipado, poderá usar este recurso para lastrear a venda de mais seguros ou mesmo para aplicar em outros investimentos e, assim, obter ainda mais ganhos.
O mesmo ocorre quando desejamos comprar um imóvel em um local com potencial de valorização dentro de um dado período. Ao invés de pagar todo o valor do imóvel, podemos pagar um sinal (prêmio) ao vendedor e aguardar o prazo.
Se nossa expectativa não se concretizar, não exerceremos o direito e perderemos o valor do prêmio. Isto é melhor do que perder todo o valor do imóvel. Se estivermos certos e o imóvel se valorizar, exerceremos nosso direito, compraremos o imóvel pelo preço predeterminado e poderemos revendê-lo no mercado, com lucro.
Para que as seguradoras possam oferecer e vender seguros, elas precisam ter um lastro, isto é, uma garantia de que terão como honrar o compromisso com os clientes caso estes desejem usar o seguro. Esta garantia é o patrimônio líquido da seguradora.
No mercado financeiro, o seguro é chamado opção e vocês farão o papel da seguradora, isto é, venderão seguros (opções) usando a carteira de ações como lastro.
Vejamos no quadro abaixo uma comparação entre o seguro automóvel e o mercado de opções.
SEGURO AUTOMÓVEL
COMPRADOR | VENDEDOR |
Você | Seguradora |
Direito (serviço, troca do veículo) | Obrigação (serviço, troca do veículo) |
Preço previamente acordado (franquia) | Preço previamente acordado (franquia) |
Validade de um ano | Validade de um ano |
Paga o prêmio (valor do seguro) | Recebe o prêmio (valor do seguro) |
Lastro (dinheiro) | Lastro (patrimônio líquido) |
OPÇÃO SOBRE AÇÕES
COMPRADOR | VENDEDOR |
Mercado | Você |
Direito (comprar as ações) | Obrigação (vender as ações) |
Preço previamente acordado (strike) | Preço previamente acordado (strike) |
Validade de um mês, 3a segunda feira | Validade de um mês, 3a segunda feira |
Paga o prêmio (valor da opção) | Recebe o prêmio (valor da opção) |
Lastro (dinheiro) | Lastro (carteira de ações) |
CONHECENDO OS TIPOS DE OPÇÕES
Existem dois tipos de opções negociadas no mercado financeiro: as opções de compra, também chamadas call, e as opções de venda, chamadas put. Aqui falaremos apenas das opções de compra.
Quem compra uma opção de compra sobre determinada ação está comprando o direito, mas não a obrigação, de comprar as ações a um preço predeterminado e por um prazo limitado. O comprador de opções chama-se financiador. Ele só exercerá o direito se, até o término do prazo, o preço das ações estiver acima do preço previamente combinado. Neste caso, ele comprará as ações e as venderá no mercado por um preço mais alto, com lucro. Se o prazo se encerrar e o preço estiver abaixo do preço combinado, o comprador não exercerá o direito e o prêmio ficará todo com o vendedor.
O vendedor de opções, por sua vez, chama-se lançador. Ele recebe o prêmio do comprador e fica obrigado a vender as ações pelo preço previamente acordado apenas se o comprador desejar e dentro do prazo de tempo estipulado. Se, ao término do prazo, o comprador não exercer o direito, o contrato acaba e o vendedor pode vender novamente opções.
O objetivo de quem vende opções é ficar com todo ou com parte do prêmio todos os meses e usar este prêmio para comprar mais ações para a carteira.
Quanto à forma de exercer o direito, as opções podem ser americanas, quando podem ser exercidas a qualquer momento até o vencimento, ou europeias, que só podem ser exercidas no dia do vencimento.
SÉRIES DE OPÇÕES
Como as opções apresentam um tempo de vida, elas são negociadas em séries. Cada série é representada por uma letra do alfabeto de acordo com a data de vencimento, isto é, quando a validade termina. O vencimento ocorre sempre na terceira segunda feira de cada mês (exceto se for feriado). Portanto, o ganho com as opções será mensal.
Na tabela abaixo estão as diferentes series e suas respectivas datas de vencimento.
OPÇÕES DE COMPRA (CALL) | |
Série | Vencimento (3a segunda-feira) |
A | Janeiro |
B | Fevereiro |
C | Março |
D | Abril |
E | Maio |
F | Junho |
G | Julho |
H | Agosto |
I | Setembro |
J | Outubro |
K | Novembro |
L | Dezembro |
TICKER DAS OPÇÕES
Da mesma forma que a negociação das ações, a negociação de opções é feita através do ticker, isto é, da forma abreviada. Para formar o ticker, utiliza-se as 4 letras designativas da empresa, seguida da letra designativa da série e depois de um número que representa o preço de exercício, isto é, o preço previamente combinado para a venda as ações, caso o comprador queixa exercer seu direito. Vejamos exemplos.
ABEVA18. Opção de compra sobre as ações da AMBEV, com vencimento para a terceira segunda feira de janeiro (letra A) e preço de exercício de 18 reais.
VALEJ16. Opções de compra sobre as ações da VALE, com vencimento para outubro e preço de exercício de 16 reais.
BBASI24. Opções de compra sobre as ações do BANCO DO BRASIL, com vencimento para setembro e preço de exercício de 24 reais.
Existem alguns tickers que não obedecem esta regra porque são definidos pela Bovespa de acordo com a demanda. Isso acontece, usualmente, quando o preço de exercício não é inteiro, e sim fracionado. Por exemplo…
ABEVI79. Opção de compra sobre as ações da AMBEV, com vencimento para a terceira segunda feira de setembro (letra I) e preço de exercício de 19,57 reais.
VALEJ75. Opção de compra sobre as ações da VALE, com vencimento para a terceira segunda feira deoutubro e preço de exercício de 15,13 reais.
Portanto, antes de fazer a venda de opções, deve-se consultar um site especializado. Acessem www.saudeinvestimentos.com.br/cadastro e façam o cadastro gratuito. O login sera o email e a senha vocês escolhem. Em seguida, vocês entram no mesmo site, www.saudeinvestimentos.com.br e acessem com o login e a senha.
- Cliquem em opções e escolham call (opção de compra).
- Em código, digitem o ticker das opções que desejam consultar.
- Em vencimento, selecionem o mês de vencimento e cliquem em buscar.
Pronto! Aparecerão todas as opções disponíveis para negociação, inclusive com as informações sobre o preço de exercício (strike) e se ela é americana ou europeia.
QUAIS OPÇÕES VENDER?
Para a realização da venda coberta de remuneração, vocês venderão opções sempre com o preço de exercício acima do preço da ação, para aumentarem as chances de ficar com o prêmio e também para se beneficiarem do decaimento pelo tempo (ver adiante).
O “pulo do gato” está em vender opções que tenham um bom valor, mas um baixo risco de serem exercidas. O objetivo desta estratégia é garantir uma renda mensal que poderá (e deverá!) ser usada para comprar mais ações. Vocês perceberão que, quanto mais ações tiverem em carteira, maior será a renda recebida.
Nesta estratégia, o ganho é definido no momento da venda da opção e não depende do movimento do preço das ações. Por isso, a venda coberta de remuneração é dita estratégia não direcional. Uma vez montada a carteira de ações, vocês não devem ficar preocupados com o seu valor financeiro, já que o objetivo é manter as ações por longo período de tempo. O foco está na renda que a carteira de ações fornecerá mensalmente. A remuneração de carteira, como o próprio nome diz, visa o recebimento de um ganho mensal.
Vocês devem escolher as opções cujo preço de exercício esteja entre 5 e 10% acima do preço em que as ações estão sendo negociadas. Esta diferença é chamada de lastro e visa a aumentar a segurança do vendedor e reduzir as chances de o mesmo ser exercido.
Por exemplo, com as ações da Vale sendo negociadas a R$ 25,00, vocês devem vender opções com preço de exercício girando em torno de R$26,25 (5% acima do preço em que as ações estão sendo negociadas). Com isso, reduzem as chances de serem exercidos e ainda ganham um bom prêmio pela venda das opções. Este mesmo princípio é válido para as demais ações que vocês têm na carteira.
Usualmente, vendendo opções OTM com lastro de 5%, o ganho com o prêmio ficará entre 2-3% sobre o preço da ação. Portanto, um ganho mensal bem acima da renda fixa. Isso sem contar os demais ganhos com os proventos que continuarão ocorrendo.
Este lastro de 5% acima do preço da ação para escolher o preço de exercício tem como base o fato de que, em cerca de 70% das vezes, o preço de uma ação não subirá mais que 5% em um mês, fazendo com que a operação seja mais vantajosa para o vendedor do que para o comprador de opções (ver figura).
COMO VENDER OPÇÕES?
A venda de opções é feita pelo home broker, da mesma forma que se faz com as ações. No entanto, para vender opções, deve-se digitar o ticker da opção, após a escolha na consulta prévia ao site da BOVESPA, como mostrado antes.
Deve-se sempre vender opções na mesma quantidade de ações que se tem na carteira, por isso a estratégia chama-se venda coberta. As ações servem de cobertura para a venda de opções.
Vejamos um exemplo.
Suponham que, após aplicarem a análise fundamentalista, vocês tenham acabado de comprar 5.000 ações ITUB4 (ações preferenciais do itauunibanco) a R$ 36,70 cada. Imediatamente após a compra, vocês farão a venda de opções sobre as ações que compraram para terem um ganho extra e remunerarem a carteira.
Após consulta ao site da BOVESPA e com base no lastro de 5%, vocês decidem vender a opção ITUBJ39 cujo preço de exercício é de 39,11 (lastro de 6,5%). O prêmio desta opção está em R$ 0,85, o que dá um ganho de 2,3% sobre o valor das ações.
Como vocês têm 5.000 ações, poderão vender 5.000 opções, obtendo ganho imediato de R$ 4.250,0. Este dinheiro ficará disponível na conta de vocês na corretora e já poderá ser usado para comprar mais 100 ações ITUB4, aumentando o tamanho da carteira para 5.100 ações.
O valor remanescente da compra ficará guardado na conta e, futuramente, poderá ser complementado para comprar mais ações. Feito isto, vocês apenas terão que esperar o dia do vencimento para saber se serão exercidos ou não. Se forem exercidos, venderão as ações por R$ 39,11, além do ganho com o prêmio. Se não forem exercidos, ficarão com todo o dinheiro do prêmio e poderão vender novamente opções na série seguinte.
Observem que o ganho de vocês ficou definido no momento da venda e independe da variação no preço da ação. Portanto, ao fazer a venda coberta de remuneração, vocês não precisarão parar as atividades de vocês para ficar olhando o preço das ações.
O vendedor de opções (no caso, vocês) tem o trabalho de comprar as ações e vender as opções. Daí em diante, fica a cargo do comprador decidir se exerce ou não o direito até o dia do vencimento. Não é preciso ficar todos os dias, o dia todo, na frente do computador olhando o comportamento do preço das ações. Além disso, aquelas perguntas clássicas que todas as pessoas que investem ou que querem investir em ações costumam fazer (“a ação vai subir?” ou “a ação vai cair?”) deixam de ter relevância para essa estratégia, porque se o preço da ação subir, ganha-se o prêmio e as ações são vendidas por um preço acima do preço de compra; se o preço da ação ficar estável ou mesmo cair, ganha-se todo o dinheiro do prêmio, porque o comprador não irá exercer o direito
VOCABULÁRIO DO MERCADO DE OPÇÕES
O mercado de opções tem alguns jargões que precisam ser entendidos. São eles:
- Ser exercido: significa vender as ações para o comprador de opções. Existem dois tipos de opções quanto ao exercício. As opções europeias (designadas pela letra E na frente do strike) só podem ser exercidas no vencimento. As opções americanas (sem nenhuma letra após o ticker) podem ser exercidas a qualquer momento até o vencimento, mas isto é raro. As opções americanas são mais negociadas que as europeias.
- Strike (preço de exercício): preço pelo qual as ações serão vendidas caso o comprador exerça o direito. É definido no momento da venda.
- Breakeven: soma do strike com o prêmio. Por exemplo, se o strike de uma opção é 19,57 e o prêmio é R$ 0,61, o breakeven será de R$ 20,18. Serve para o comprador avaliar a partir de qual preço da ação ele realmente passará a ter lucro. Ele só passará a ter lucro e o preço estiver acima do breakeven.
- Virar pó: opções que não serão exercidas.
- Gordura: parte do prêmio da opção que representa o valor extrínseco e que sofre o efeito do decaimento pelo tempo (ver adiante). Opções magras são as que tem pouco valor extrínseco e opções gordas são as que tem muito valor extrínseco.
- Lastro: distância entre o preço da ação e o strike. É uma medida de segurança do lançador com relação ao exercício. Quanto maior o lastro, maior a segurança e menor o prêmio. Portanto, o segredo está em vender uma opção que ofereça, simultaneamente, o maior lastro e o melhor prêmio.
PARTICULARIDADES DO MERCADO DE OPÇÕES
Muito do que vocês aprenderam até agora sobre o mercado de ações não se aplica ao mercado de opções. Eis algumas diferenças.
- As opções só podem ser negociadas em lotes múltiplos de 100. Não há negociação de opções no mercado fracionário. O mínimo de opções que pode ser negociado é 100.
- As alíquotas do IR sobre as operações com opções seguem a mesma regra do mercado à vista. Porém, o cálculo do IR sobre as opções deve ser feito independentemente do cálculo do IR para operações no mercado à vista. Se você teve prejuízo no mercado de opções, não poderá abatê-lo de um lucro no mercado à vista e vice-versa.
- Não é aconselhável deixar ordem de stop para comprar ou vender opções. Embora isto possa ser feito, as opções oscilam muito durante o pregão, chegando a ter variações da ordem de 100% ou mais, em algumas horas. No momento de negociar opções, é preferível enviar uma ordem de mercado.
- Opções não são “ações baratas”. Ao contrário do que muitos investidores acham, opções não são ações vendidas a preço baixo. Enquanto a vida útil de uma ação é o tempo que durar a empresa, a vida útil de uma opção no Brasil é de um mês, chegando a, no máximo, dois meses. De qualquer forma, a opção tem prazo para acabar.
- Liquidação em D+1. O período de liquidação das operações de compra e venda de opções ocorre em D+1 e não em D+3, como ocorre com a compra e venda de ações.
DECAIMENTO PELO TEMPO
A venda de opções com preço de exercício acima do preço da ação é vantajosa, porque o prêmio dessas opções é todo formado por expectativa. Esta expectativa é chamada de valor extrínseco, gordura ou simplesmente VE. Dado que a expectativa diminui à medida que o tempo passa e se aproxima do vencimento, estas opções sofrem corrosão, derretimento ou decaimento com o passar do tempo, até que no dia do vencimento elas têm grande chance de não terem mais nenhum valor; de virarem pó.
A figura abaixo mostra a variação do prêmio em relação ao tempo que falta para o vencimento.
Essa perda de valor que o prêmio das opções OTM sofre com o passar do tempo chama-se decaimento pelo tempo. Ele faz com que o tempo esteja a favor de quem vende opções.
Uma forma simples de entender o decaimento pelo tempo é imaginar uma pedra de gelo deixada em um copo em temperatura ambiente. Conforme o tempo passa, o gelo derrete gradativamente, até chegar o momento em que o gelo deixará de existir. No mercado de ações, a venda coberta de remuneração é uma forma muito inteligente de vocês usarem o tempo a favor de vocês.
REQUISITOS PARA O SUCESSO DA VENDA COBERTA
A venda coberta de opções apresenta três particularidades que deverão ser respeitadas para que ela funcione em sua plenitude.
- As ações deverão ser mantidas em carteira: as ações são a cobertura para a venda de opções. Por isso, quanto mais ações na carteira, mais opções poderão ser vendidas, mais dinheiro recebido e, com esse dinheiro, mais ações poderão ser compradas. Além disso, o detentor de ações é sócio da empresa e recebe parte do lucro da empresa, em valor proporcional ao número de ações que tem.
- O mais importante é o número de ações e não o preço: o preço das ações varia o tempo todo, caindo em épocas de crises e subindo em épocas de euforia. Em períodos de crises, o valor financeiro da carteira de ações sofrerá redução em virtude da queda no preço das ações. Por outro lado, em períodos de euforia, o valor financeiro aumentará em virtude do aumento no preço das ações. Por isso, é importante que vocês escolham empresas sólidas e que continuarão lucrando mesmo em épocas de crises. E, mais importante, se o preço das ações cair, vocês ganharão com a venda de opções. Com esse dinheiro, pode-se comprar mais ações e ainda por um preço mais baixo. Literalmente, vocês comprarão ações para a carteira, a um preço mais baixo e com o dinheiro dos outros!
- O dinheiro ganho com proventos e com a venda de opções deve ser usado para comprar mais ações e engordar ainda mais a carteira: vocês estão investindo hoje para colher no futuro. Portanto, quanto maior o tamanho da carteira de ações, maior o rendimento com proventos e com a venda de opções. Cria-se um círculo virtuoso, pois quanto mais ações na carteira, ganha-se mais proventos e mais dinheiro com a venda de opções. Com o dinheiro ganho, vocês comprarão cada vez mais ações e aumentarão ainda mais a carteira. Com o tempo, a quantidade de ações de empresas sólidas e lucrativas acumuladas proporcionará a independência financeira de vocês.
A MANOBRA DE ‘ROLAGEM’
Esta é uma manobra usada para evitar ser exercido, em caso de alta do preço da ação e também para aumentar o ganho em caso de queda no preço da ação antes do vencimento. Consiste na compra das opções vendidas e na venda de novas opções na mesma série ou na série seguinte. A rolagem pode ser para cima ou para baixo, dependendo do preço do ativo.
A rolagem deve ser feita em três situações:
- Na semana anterior ao vencimento (quarta ou quinta-feira): deve-se rolar a venda de opções independente do preço da ação. Desta forma, evita-se que uma alta súbita no preço da ação nos dias que antecedem o vencimento possa levar as opções a serem exercidas. Geralmente, esta rolagem ocorrerá nos mercados em congestão (variação de preços dentro de uma estreita faixa). Neste caso, o decaimento pelo tempo fará com que o prêmio perca valor ao longo do tempo de tal forma que, na semana do vencimento, ele estará valendo poucos centavos. Neste caso, sempre a rolagem é feita para a série seguinte para uma opção com o mesmo lastro (entre 5-10%).
- Nos períodos de alta no preço das ações (rolagem para cima): dado que o comprador exercerá o direito caso o preço da ação suba acima do breakeven, se ocorrer alta é preferível rolar a venda mesmo que faltem muitos dias para o vencimento. Neste caso, o preço de compra da opção tenderá a ser maior do que o preço de venda, requerendo dinheiro adicional para cobrir a diferença. Mas nem sempre isso é necessário porque, tão logo seja feita a venda novamente de opções, seja na mesma série ou na série seguinte, o valor obtido já serve para cobrir total ou parcialmente a diferença.
Quando necessário, esse dinheiro adicional pode vir dos aportes ou da venda de algumas ações da carteira. Felizmente, os períodos de alta nos preços que exigem a rolagem para cima costumam ocorrer em cerca de 30% das vezes, fazendo com que, em aproximadamente 70% das vezes, esta rolagem não seja necessária.
Embora isso não seja uma regra, é aconselhável que a rolagem para cima seja feita para a mesma série se estiverem faltando mais do que duas semanas para o vencimento ou para a série seguinte se estiverem faltando menos do que duas semanas para o vencimento, mantendo sempre o lastro de 5-10%. Com isso, vocês conseguirão amenisar o custo da rolagem e terão maior proveito na operação.
- Quando as opções vendidas estiverem virando pó (rolagem para baixo): isto ocorre em períodos de queda no preço da ação. A queda no preço da ação, aliada ao efeito do decaimento pelo tempo, costuma acelerar a perda de valor do prêmio. Em geral, quando o prêmio estiver dando retorno inferior à renda fixa, já é aconselhável rolar para baixo a venda, pois o retorno passa a não mais compensar o risco.
Para calcular o ganho em relação à renda fixa, usa-se a taxa SELIC como referência, dividida por 12 meses e ajustada para a o número de semanas até o vencimento. Ao fazer a venda no início da série, o retorno precisa estar acima deste valor para valer a pena. Logo, se tiver transcorrido uma semana, o prêmio terá que dar um retorno de 0,675%; após duas semanas, o retorno deve ser de 0,45% e, faltando uma semana, o retorno precisa ser de 0,225% sobre o preço da ação. Se, em vigência de queda, o retorno estiver abaixo destes patamares é aconselhável rolar para baixo.
As rolagens para baixo são feitas com ganho de dinheiro, pois implicam necessariamente em não ser exercido. Assim, ao rolar para baixo, além de ganhar a primeira venda, vocês estarão pleiteando ganhar mais de uma venda em um mesmo mês, o aumentará ainda mais o ganho.
Tal como ocorre na rolagem para cima, é aconselhável que a rolagem para baixo seja feita para a mesma série se estiverem faltando mais do que duas semanas para o vencimento ou para a série seguinte se estiverem faltando menos do que duas semanas para o vencimento, mantendo sempre o lastro de 5-10%. Com isso, vocês conseguirão amenisar o custo da rolagem e terão maior proveito na operação.
O fluxograma abaixo mostra os tipos de rolagens e as situações em que cada uma delas deve ser feita.
Para concluir, caros investidores, a venda coberta de remuneração é uma excelente estratégia para multiplicar o patrimônio em ações. Ela é simples, segura, fácil de ser viabilizada e exige pouco tempo de monitorização do mercado, o que permitirá que vocês continuem exercendo suas profissões sem preocupação, uma vez que o ganho já ocorreu no momento da venda de opções. E não é necessário ser um expert em investimentos, nem mesmo deixar de exercer a profissão, para obter estes ganhos.
Ótimos investimentos a todos.
COLABORAÇÃO
Dr. Alexandre Rosa
Dr. Romeu Fadul Jr.