Série Finanças para Consultórios: Conceitos Básicos
Conheça os termos fundamentais que você precisa saber para administrar as finanças de seu consultório com maior confiança.
Conheça os termos fundamentais que você precisa saber para administrar as finanças de seu consultório com maior confiança.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA PARA MÉDICOS
Finanças no Consultório: Como maximizar os resultados
Francinaldo Lobato Gomes *
DESMISTIFICANDO AS FINANÇAS
Grande parte dos médicos deixa a gestão financeira de seus consultórios a cargo do contador, do administrador e, em alguns casos, até da própria secretária. Claro que estes profissionais são essenciais para o bom andamento das finanças do consultório. No entanto, o médico é quem deve estar à frente das decisões financeiras. Uma das barreiras que levam os médicos a não se interessarem pela gestão financeira é o vocabulário usado nas áreas de finanças, gestão e contabilidade.O médico é quem deve estar à frente das decisões financeiras.
Nesta coluna, veremos os principais termos que devem ser de conhecimento de todos os médicos para que possam gerir adequadamente as finanças de seus consultórios.
CAIXA
Conta que registra os recursos disponíveis para efetuar pagamentos, na qual estão registrados, de maneira ordenada, os montantes recebidos e pagos. A boa gestão financeira do caixa permite que haja sempre saldo positivo.
GASTO
É todo recurso que sai do caixa do consultório. Quando o gasto é empregado para a realização direta da atividade fim, chama-se custo (ex. agulhas, seringas e luvas). Quando o gasto não está relacionado diretamente com a atividade fim, ele recebe o nome de despesa (ex. papel, tinta para a impressora, grampos e copos descartáveis). Os gastos também podem ser: fixos, quando eles não dependem do faturamento do consultório; variáveis são aqueles que dependem diretamente do faturamento do consultório; e extraordinários que, usualmente, não estão previstos no orçamento. É muito importante conhecer em detalhes os gastos do consultório. Só desta forma é possível trabalhar no sentido de reduzi-los.
RECEITA
É todo recurso que entra no caixa do consultório, tais como consultas (particulares e convênios), exames e procedimentos.
RESULTADO FINANCEIRO
É o saldo na conta do consultório obtido em um determinado período de tempo (em geral, 12 meses). É obtido subtraindo-se as receitas dos gastos. Quando a receita de um consultório for maior do que as despesas, diz-se que ocorreu ganho ou lucro; quando as despesas superam as receitas, diz-se que ocorreu perda ou prejuízo.
FATURAMENTO
É o total arrecadado pelo consultório em um determinado período de tempo qualquer (dia, mês, ano). Não se deve confundir faturamento com lucro.
ORÇAMENTO
É a parte de um planejamento financeiro estratégico que compreende a previsão de receitas e despesas futuras para a administração do consultório por determinado período de tempo.
REMUNERAÇÃO
É o conjunto de retribuições recebidas habitualmente pelos sócios. Existem, basicamente, duas formas de remuneração: o pró-labore e a distribuição de lucros. O pró-labore é fixo e retirado mensalmente; a distribuição de lucros é feita conforme a lucratividade e é distribuída proporcionalmente à participação de cada sócio.
PATRIMÔNIO LÍQUIDO (PL)
É o resultado positivo da diferença entre ativos e passivos de um consultório. Ativo é tudo o que o consultório tem (ex. equipamentos, imóveis, contas a receber) e passivo é tudo o que consultório deve (ex. salários, encargos, contas a pagar). O PL representa a riqueza do consultório, isto é, quanto o consultório vale. Vimos que a principal função de uma boa gestão financeira consiste em trabalhar para obter lucro a partir das atividades e, consequentemente, aumentar o PL (valor) do consultório de forma consistente.
RETORNO SOBRE O PATRIMÔNIO LÍQUIDO (RPL)
Mostra o quanto de liderança de mercado o consultório possui e o quão lucrativo o consultório está sendo. O cálculo do RPL é feito dividindo-se o lucro líquido pelo patrimônio líquido, expresso em valores percentuais. Se um consultório tem RPL de 20% ao ano, por exemplo, significa que ele tem um rendimento anual de 20% sobre o valor do seu patrimônio.
MARGEM LÍQUIDA
Mostra o percentual de lucro para cada real obtido em receita. O cálculo é feito dividindo-se o lucro líquido pela receita líquida, expressa em valores percentuais. Se o consultório tem margem líquida de 15%, por exemplo, significa que de cada R$ 1,00 obtido em receita, 15%, ou seja, R$ 0,15 (quinze centavos) ficam para o consultório. É aconselhável manter margens acima de 15% para que se tenha tranquilidade em períodos desfavoráveis.
PERFIL DE ENDIVIDAMENTO
Um aspecto importante de qualquer empresa e, portanto, do consultório, é saber qual o seu grau de endividamento. Neste sentido avaliamos a capacidade de honrar suas dívidas de curto prazo (com vencimento em até 12 meses) através do Índice de Liquidez Corrente (ILC) e também a sua capacidade de honrar as dívidas de longo prazo (vencimento superior a 12 meses) através do Índice de Solvência (IS). Com os dados do balanço patrimonial (ver abaixo) é possível avaliar esta capacidade.
Para calcular a liquidez corrente, divide-se o ativo circulante (ganhos em até 12 meses) pelo passivo circulante (contas a pagar em até 12 meses).
ILC = Ativo circulante/ Passivo circulante
Ideal que seja >1
Isto mostra a capacidade que o consultório possui de honrar as dívidas de curto prazo com recursos próprios. É aconselhável manter o ILC sempre acima de 1, indicando que há sempre mais ativo circulante do que passivo circulante, isto é, que há recursos próprios suficientes para honrar as dívidas de curto prazo sem a necessidade de recorrer a empréstimos ou financiamento.
Uma vez que o consultório apresenta também dívidas de longo prazo, é importante saber a capacidade de honrar estas dívidas. Para isto é preciso saber o Índice de Solvência (IS) do consultório.
Para calcular a solvência, divide-se o passivo total pelo patrimônio líquido. O resultado é multiplicado por 100 para valores percentuais. É aconselhável manter o IS inferior a 30% pois valores maiores indicam grande chance de o consultório tornar-se insolvente.
IS = (Passivo total/ Patrimônio Líquido)*100
Ideal que seja < 30%
Por exemplo, se um consultório tem um IS de 30%, isto quer dizer que ele está comprometendo 30% do seu patrimônio líquido com o pagamento de contas. O ideal é pagar todas as contas com recursos vindos da receita, mas nem sempre isso é possível. Quanto mais baixo o IS, melhor e mais eficiente está sendo a gestão porque está conseguindo pagar as dívidas sem comprometer muito do patrimônio liquido.
É importante não comprometer grande parte do patrimônio liquido com o pagamento de dívidas caso contrário pode-se enfrentar problemas para honrar as contas caso haja algum atraso no recebimento ou mesmo alguma despesa extraordinária.
PAYBACK
Antes de montar um consultório, antes de se tornar sócio de um consultório ou mesmo antes de investir em qualquer projeto, é preciso ter uma ideia do tempo necessário para recuperar o investimento que foi feito. O termo payback (do inglês ‘devolução de pagamento’) mostra ao profissional da saúde o tempo necessário (usualmente em anos) para que o mesmo possa reaver o valor investido. Para calcular o payback, é preciso conhecer o valor do investimento inicial, os fluxos de caixa esperados ao final de cada ano por, pelo menos, cinco anos futuros e o custo médio ponderado do capital. Destes, os fluxos de caixa são estimados com base nas receitas e nas despesas que se acredita obter nos cinco anos futuros após o funcionamento do consultório. Todos estes dados são estimados por meio de um plano de negócios. Em geral, é aconselhável que o investimento inicial se pague num período de até cinco anos.
PONTO DE EQUILÍBRIO (PE)
Ponto de equilíbrio é o ponto em que o lucro do consultório é igual a zero. Significa que neste ponto todas as despesas foram supridas pela receita. O ponto de equilíbrio permite apurar o número mínimo de unidades vendidas (consultas, exames e procedimentos) capaz de liquidar os custos fixos do consultório. A partir deste ponto, qualquer venda adicional passará a representar ganho para o consultório.
Para calcular o ponto de equilíbrio, divide-se o custo fixo total pela diferença entre o preço de venda e o custo variável unitário, também chamada de margem de contribuição unitária. Vejamos um exemplo.
Um consultório apresenta custo fixo mensal de R$ 5.000,00. O valor de cada consulta é de R$ 60,00, com um custo variável de R$ 35,00 por cada consulta. Quantas consultas precisam ser feitas para pagar os custos fixos, isto é, qual o ponto de equilíbrio para este consultório?
Sendo assim, temos que:
- Custo fixo = 5.000,00
- Margem de contribuição unitária = 60-35 = 25.
- PE = 5.000/25 = 200.
Isto significa que este consultório terá de realizar, no mínimo, 200 consultas por mês para cobrir os custos fixos, sem que haja lucro.
O ponto de equilíbrio deve ser calculado separadamente para cada serviço prestado.
De posse deste vocabulário, o médico poderá interagir de forma mais harmônica com os profissionais que o auxiliam e, assim, trilhar o caminho para o sucesso profissional.