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Os Desafios Presentes e Futuros da Pediatria no Brasil

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Números e análises sobre a profissão de Pediatra no Brasil, uma das especialidades médicas mais populares, mas que enfrenta inúmeros desafios diários.

 

No último mês de outubro, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) realizou o 38º Congresso Brasileiro de Pediatria, o maior encontro nacional focado nessa especialidade médica. Entre discussões sobre temas atuais e importantes para a área, diversos levantamentos acerca da profissão no país foram apresentados — e nem sempre com bons prospectos, como veremos adiante. Aproveitamos a data para levantar algumas questões importantes sobre o presente e o futuro da pediatria no Brasil, perguntando a nossos leitores o que podemos fazer para melhorar o atual cenário.

mapa pediatria no brasil portalped

PROFISSÃO: PEDIATRA

O pediatra se encontra em uma posição única dentre os profissionais de Medicina. Ele trabalha para prevenir e curar enfermidades em um grupo especial, de pessoas ainda bastante delicadas, com dificuldades de verbalizar o que sentem. Além das crianças, os profissionais precisam “cuidar”, também, dos adultos responsáveis por elas, explicando o que acontece com os pequenos e pedindo sua colaboração na manutenção da saúde. Não é uma tarefa fácil — mas, como sabemos, pode ser extremamente gratificante.

O tema do Congresso da SBP este ano foi “Eu pediatra, cuidando do futuro do Brasil“. O mote não poderia ser mais adequado. Não é preciso dizer, aqui, o quão importante é o profissional pediatra para o desenvolvimento de um país: como elo primário entre pais e o mundo da Medicina, o pediatra é o profissional que conhecerá a fundo a saúde de uma criança e de um jovem, podendo acompanhá-los durante anos e trabalhar para que sua saúde esteja sempre bem. Além disso, por estar em contato direto e diário com a realidade dos pequenos, o pediatra ainda ajuda a direcionar campanhas e políticas públicas de saúde, alertando a sociedade sobre problemas recentes e impactantes que estão afetando os jovens, sugerindo soluções e a adoção de medidas preventivas.

Um dos destaques do Congresso da SBP foi o impacto das novas tecnologias — especialmente as mídias digitais — na saúde dos jovens. Temas como bullying, suicídio e jogos perigosos (como o famigerado “Baleia Azul”) foram discutidos no evento.

“Cuidar do futuro” de um país pode ser entendido tanto no sentido metafórico quanto literal. De fato, o exercício da profissão de pediatria tem um impacto positivo indelével na sociedade. Isto é, desde que o profissional encontre as condições adequadas para o exercício dessa atividade. O que nem sempre ocorre no Brasil…

 

CRESCE A VIOLÊNCIA CONTRA PEDIATRAS

hospital pediatrico

Um dado apresentado com exclusividade no congresso ilustra bem a situação crítica do pediatra no país. Uma pesquisa elaborada pelo Instituto Datafolha, sob encomenda da própria Sociedade Brasileira de Pediatria, ouviu mais de 1.200 pediatras em todos os estados brasileiros e revelou que cerca de 1/3 deles já sofreu atos de violência no exercício do trabalho. Entre os profissionais que atuam no setor público, o índice chegou a 26%. No privado, 12%.

grafico violencia contra pediatras

Os dados mostram, ainda, que a violência é voltada especialmente às mulheres. 24% das pediatras relataram ter sofrido violência, número que atingiu o índice de 17% nos homens. Entre as mulheres, também o nível de estresse é altíssimo, atingindo o maior valor dos últimos cinco anos: 66% relataram desgaste profundo com o exercício da profissão.

O presidente da Sociedade Espírito-Santense de Pediatria, Rodrigo Aboudib, em entrevista para a imprensa, explica os dados: “A violência contra médicos aumentou muito, especialmente nos pronto-atendimentos, onde as pessoas buscam ser socorridas rapidamente. A falta de condição de trabalho e o exacerbação da carga de trabalho acabam provocando reações impensadas”, acrescentou.

 

O PEDIATRA É BEM REMUNERADO?

o medico pediatra e bem remunerado

Felizmente, as agressões, pelo menos por ora, ainda não são uma constante no mundo pediátrico. O que, todavia, é constantemente relatado pelos profissionais são as más condições de trabalho — especialmente em termos de remuneração.

O pediatra é um profissional que não apenas atende em hospitais e em consultórios. Ele precisa estar à disposição das famílias em casos de emergências, além de ter cuidados especiais com o emocional dos pais e com a educação dos responsáveis pelos cuidados da criança. Por todos estes serviços extras, o pagamento está longe do adequado.

Nos últimos anos, muitos profissionais que atuavam no setor público migraram de área – você consegue imaginar os motivos?

Nos últimos anos, muitos profissionais que atuavam no setor público migraram de área, devido à baixa remuneração e à falta de políticas públicas e serviços focados na infância e na adolescência. A falta de equipamentos básicos para realização de exames diagnósticos (uma situação de praxe no país) também afasta profissionais. Quem trabalha na área privada se queixa do valor das consultas — especialmente dos repasses dos planos de saúde —, que se encontra muito aquém do almejado por profissionais que precisam estar sempre “à disposição”.

“A prática da pediatria é essencialmente clínica e a consulta não é bem paga pelos planos de saúde”, diz Rogério Pechinni, diretor do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em entrevista para a revista IstoÉ. “O que deve haver é uma valorização da consulta, uma reivindicação da comunidade médica como um todo”, explica o pediatra José Fernando Vinagre, conselheiro do Conselho Federal de Medicina.

 

PEDIATRIA — UMA ESPECIALIDADE “PAULISTA”

Como veremos abaixo, pediatras é que não faltam no Brasil. Apesar de ser notada uma redução no percentual desses profissionais dentre os médicos formados nos últimos anos, o número ainda é bastante superior ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Atualmente, estima-se que há 18 pediatras para cada 100 mil habitantes no país.

Todavia, a distribuição desses profissionais é extremamente polarizada. Apenas a região Sudeste retém mais de 54% dos pediatras no Brasil. Cerca de 30% dos profissionais do país atuam em São Paulo. Hospitais no Norte e Nordeste, em especial, sofrem com a falta de médicos especializados nas crianças na hora dos atendimentos.

Isso ajuda a explicar um fato preocupante. Segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria, 30% dos casos de rotina e 43% dos atendimentos emergenciais de crianças realizados no Brasil não são feitos por um pediatra. Com a total falta de políticas públicas voltadas a esta classe profissional, assim como a precariedade da saúde brasileira no geral, este é um quadro que dificilmente se reverterá nos próximos anos.

distribuicao de pediatras no brasil

NÚMEROS DA PEDIATRIA NO BRASIL

Diversos levantamentos nos últimos anos tentam entender os números e as tendências do mundo da pediatria no país. Apesar de haver algumas discrepâncias nas contagens do número de profissionais, as estatísticas são razoavelmente próximas. Acompanhe os dados a seguir:

  • Em um universo de 433 mil médicos em atividade no Brasil, 229 mil são especialistas e, destes, cerca de 35 mil são pediatras. A pediatria é a área com maior número de profissionais no mercado — mas a porcentagem de pediatrias vem caindo desde 1996, de acordo com alguns levantamentos.
  • Somente no Estado de São Paulo, são mais de 10 mil pediatras — ou cerca de 30% dos pediatras no país.
  • No Brasil, há dois médicos para cada mil habitantes, sendo que o Sudeste concentra 54,51% dos especialistas. Na relação de profissionais por especialidades, há 15,53 pediatras por 100 mil moradores.

 

 

O Brasil enfrenta inúmeros problemas políticos, sociais e econômicos. De pouco adianta apenas reclamar: é preciso ação para que mudanças ocorram. Mas ação é fruto da conscientização. Por isso, apresentamos aqui dados que revelam um recorte do panorama atual do profissional pediatra no país. Conhecendo como nossos colegas trabalham, podemos entender melhor a realidade da profissão e sugerir soluções, tanto de curto quanto de médio e longo prazo, para os problemas que afligem tanto os médicos quanto a população no geral, buscando, assim, melhorar as perspectivas de saúde e bem estar de todos os nossos jovens.

Um dos nossos objetivos, como PortalPed, é justamente auxiliar no fortalecimento de nossa especialidade. Qual a opinião de vocês? Como podemos ajudar a alterar esse cenário? Opine. Compartilhe!

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