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Doutor, Quanto Tempo Posso Deixar meu Filho Jogar no Tablet e Assistir TV?

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Leia o que a Academia Americana de Pediatria recomenda acerca do uso de tablets e televisores para crianças dos 0 aos 5 anos.

 

Doutor, quanto tempo posso deixar meu filho jogar no tablet e assistir TV? 

Quem nunca recebeu esse tipo de questionamento no consultório, ou de algum amigo com filhos? Você sabe como responder a essa pergunta?

A tecnologia tem ganhado cada vez mais espaço no dia a dia das crianças. Mas será que ela ajuda ou dificulta o aprendizado? A Academia Americana de Pediatria publicou algumas recomendações baseadas nos estudos mais recentes sobre o tema. Leia abaixo as orientações para as crianças de 0 a 5 anos.

 

A TECNOLOGIA MOLDANDO A MENTE DOS JOVENS

Vivenciamos atualmente um aumento importante do contato de lactentes, crianças e pré-escolares com as tecnologias, sejam elas novas ou tradicionais. Isso passou a ser motivo de preocupação sobre quando iniciar, como usar e quais as consequências do seu uso. Há quem as defenda como fonte de aprendizado e estímulo e há os que as abominam, entre outros motivos, pelo afastamento do convívio social.

O período entre o nascimento e os 5 anos de idade caracteriza-se por rápido desenvolvimento cerebral, construção de relações seguras e estabelecimento de comportamentos saudáveis [1]. Precisamos, por isso, nos atentar sobre a real influência da televisão, vídeos e tecnologias móveis e interativas nessa fase da vida, pois seu uso tem progressivamente aumentado nos últimos anos, até mesmo em famílias de baixa renda.

 

Como os tablets e a TV afetam a cognição dos pequenos?

Crianças menores de 2 anos necessitam explorar o mundo e interagir socialmente com cuidadores de sua confiança para poderem desenvolver a cognição, linguagem, motricidade e habilidade socioemocional. Nesta faixa etária, a criança aprende melhor com os cuidadores do que através das mídias digitais, devido à sua imaturidade simbólica e de habilidades ainda incipientes de memória e atenção, além da dificuldade em transferir um conhecimento ‘virtual’ para seu mundo real [2].

Estudos mostram que as crianças podem aprender palavras novas através de tela sensível ao toque já aos 15 meses, mas apresentam dificuldade em transferir este conhecimento ao mundo tridimencional. 

A partir dos 2 anos de idade, a criança pode aprender palavras, tanto em conversas ao vivo com ferramentas de vídeo (como Hangouts, Facetime ou Skype) com um adulto responsivo, como através de interfaces sensíveis ao toque (aplicativos de tablets, brinquedos, entre outros) nas quais os pequenos precisam escolher respostas [3,4]. Estudos mostram que as crianças podem aprender palavras novas através de tela sensível ao toque já aos 15 meses, mas apresentam dificuldade em transferir este conhecimento ao mundo tridimencional [5]. Tais estudos foram realizados com programas específicos que não estão disponíveis comercialmente. Nas crianças menores de 2 anos, existe evidência limitada quanto aos benefícios em se utilizar os eletrônicos. A presença do adulto participando durante sua utilização é crucial [1,6,7].

 

Os programas de TV educativos realmente educam?

Programas de televisão bem elaborados podem melhorar o cognitivo, a alfabetização e os resultados sociais em crianças entre 3-5 anos [8,9]. A maioria dos aplicativos e programas classificados como “Educacionais” não tem evidência de eficácia e não tem participação de educadores ou especialistas em seu desenvolvimento. Os aplicativos, em sua preponderância, não são produzidos para uso conjunto de pais e filhos.

As habilidades necessárias para o bom rendimento escolar, como a persistência em tarefas, o controle dos impulsos, a regulação da emoção, a criatividade e o pensamento flexível são melhor ensinados através de interações entre cuidadores e filhos, assim como pelas brincadeiras livres em grupo [10].

 

E quanto aos livros digitais?

As pesquisas sugerem, ainda, que os e-books (livros digitais) com efeitos visuais podem distrair a criança, diminuindo assim a compreensão do conteúdo e as interações durante a leitura feita pelos cuidadores. A orientação é a de que os cuidadores leiam com as crianças o e-book, interagindo como se fosse um livro impresso.

 

EFEITOS DA TECNOLOGIA NA SAÚDE E NAS INTERAÇÕES DAS CRIANÇAS

criança com tabletA utilização de eletrônicos por muitas horas durante o dia em pré-escolares aumenta o índice de massa corpórea e, assim, eleva o risco de obesidade. Assistir a televisão durante as refeições, além de diminuir a atenção para os sinais de saciedade, expõe a criança à publicidade de alimentos pouco saudáveis [11,12].

A presença de televisão, computadores ou dispositivos móveis no quarto, assim como o grande número de horas gastas com dispositivos eletrônicos, levaram a uma redução no tempo de sono por noite [13]. Crianças que utilizaram dispositivos no período noturno também tiveram menos horas de sono. Dessa forma, a utilização de dispositivos após as 19 horas deveria ser evitada [14]. A recomendação é desligar aparelhos pelo menos uma hora antes do horário de dormir.

Estudos mostram, ainda, a associação entre o uso excessivo de televisão e atrasos do desenvolvimento cognitivo, socioemocional e de linguagem, provavelmente secundários ao empobrecimento da interação entre pais e filhos e à pouca convivência familiar [15].

O conteúdo consumido também é muito importante. A mudança de conteúdo violento para educativos/pró-sociais resultou em melhora significativa no comportamento, especialmente em meninos de baixa renda.

O uso excessivo de dispositivos móveis pelos pais também gera menor interação entre pais e filhos [16] e pode ocasionar maior conflito entre eles. [17,18].

 

CONCLUSÕES:

  • Desencorajar a utilização de eletrônicos em menores de 18 meses, exceto conversas por meio de ferramentas de vídeo (como Hangouts, Facetime ou Skype).
  • Limitar a não mais do que 1 hora por dia o uso de mídias eletrônicas entre 2-5 anos de idade, com atenção à seleção de conteúdo de qualidade e garantindo a participação dos pais/cuidadores, que o farão no intuito de ajudar a criança a entender o que foi visto e aplicar o conhecimento ao mundo ao seu redor.
  • O conteúdo deve ser selecionado pelos pais e deve ser educacional e pró-social.
  • Entre os 18-24 meses, para pais que queiram introduzir mídias digitais, também atentar ao conteúdo de alta qualidade e à presença dos pais/cuidadores.
  • Sem telas durante as refeições.
  • Sem telas pelo menos 1 hora antes de se deitar. Evitar levar os dispositivos para o quarto.
  • Interfaces são intuitivas e as crianças vão aprender a utilizá-las rapidamente, quer na escola, quer em casa. Não há necessidade de sua introdução precoce.
  • Desligar televisão e outros dispositivos que não estiverem em uso.
  • Evitar utilizar meios eletrônicos como única forma de acalmar as crianças, pois isso pode levar a dificuldades em estabelecer limites e atrapalhar também o desenvolvimento de sua própria regulação emocional.
  • Os adultos devem testar os conteúdos antes das crianças, devem participar e devem, também, perguntar o que as crianças acham daquilo que viram.
  • Estabelecer horas de brincar, tanto para filhos, como para pais. Nestes períodos, desligar os eletrônicos.

Para outras faixas etárias, existem recomendações específicas que serão abordadas num novo post.

Você está orientando seus pacientes conforme as evidências atuais? Opine!

 

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Dr. Breno Montenegro Nery

Médico pediatra especializado em medicina intensiva pediátrica, com graduação pela Universidade Federal de Pernambuco e especialização pela Unicamp.

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