Recomendações de Atividade Física para crianças e adolescentes
Para combater os problemas relacionados ao sedentarismo e ao excesso de peso, quanto tempo de atividade física é recomendado? E quando é necessária a avaliação cardiológica?
A obesidade infantil vem aumentando em frequência e severidade no mundo todo. Nas crianças brasileiras, há também uma tendência de aumento nas taxas de sobrepeso e de obesidade. Dados do Sistema de Vigilância Nutricional (SISVAN) do ano de 2016 apontaram que 17,53% dos adolescentes brasileiros estavam com sobrepeso, 6,85% com obesidade e 1,48% com obesidade grave.
O aumento da prevalência de obesidade infantil resulta em uma maior ocorrência de comorbidades não somente na vida adulta, mas já presentes também na infância, incluindo:
- hipertensão arterial sistêmica,
- aterosclerose precoce,
- diabetes mellitus tipo 2,
- distúrbios do sono e
- problemas hormonais.
Tal condição coloca essas crianças em alto risco para desenvolvimento de doenças crônicas precoces, o que aumenta as taxas de complicações a médio e longo prazo.
A obesidade, sabidamente, é uma doença multifatorial, representando uma interação entre características genéticas, metabólicas, hábitos de vida e fatores ambientais. Nesse sentido, a atividade física desempenha um papel fundamental na prevenção e como parte do tratamento da obesidade infantil. O incentivo à sua prática, bem como a orientação dos pais e crianças a seu respeito, devem fazer parte da rotina da consulta pediátrica ambulatorial.
METAS DE ATIVIDADES FÍSICAS PARA CRIANÇAS E JOVENS
A Organização Mundial da Saúde estabeleceu em 2011 o nível de atividade física ideal por faixas etárias. O cumprimento desta meta, para crianças de 5 a 17 anos, está associado a melhora do desempenho cardiorrespiratório e muscular, à saúde óssea e dos marcadores cardiovasculares e metabólicos. Acompanhe algumas recomendações a seguir:
- Crianças e jovens devem acumular ao menos 60 minutos diários de atividade física moderada a intensa;
- Tempo superior a este pode trazer mais benefícios;
- O tempo deve ser em sua maioria de atividades aeróbicas; no entanto, durante 3 vezes na semana, exercícios de força podem ser incorporados.
DEVO REALIZAR AVALIAÇÃO CARDIOLÓGICA?
A prática de atividade física em crianças deve ser estimulada, porém existe sempre a dúvida de quando é necessária uma avaliação cardiológica. Recente documento publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda o seguinte com relação à avaliação:
- O liberação para atividades físicas recreativas deve ser atestada pelo pediatra assistente, já que a anamnese é o padrão ouro para atestar aptidão para realização de atividades físicas estruturadas.
- Crianças saudáveis a princípio não necessitam de avaliação com cardiologista pediátrico antes de iniciarem a prática de atividades físicas estruturadas. O encaminhamento ao cardiologista pediátrico deverá ser realizado na presença de sintomas cardiovasculares, histórico familiar positivo para morte súbita e doenças cardíacas hereditárias ou alteração no exame físico cardiovascular.
Este mesmo documento sugere a utilização das diretrizes da American Heart Association sobre quando encaminhar para avaliação com cardiologista pediátrico; transcrevemo-nas a seguir. Tal recomendação se aplica às atividades convencionais. Atletas de alto desempenho necessitam de avaliação e acompanhamento diferenciado.
HISTÓRIA PESSOAL | 1) Dor torácica ao esforço físico;
2) Síncope sem causa conhecida; 3) Dispneia ou fadiga excessiva ao esforço físico; 4) Achado pregresso de sopro cardíaco; 5) Elevação da pressão arterial; 6) Cardiopatia congênita prévia; 7) Distúrbios do ritmo cardíaco. |
HISTÓRIA FAMILIAR | 1) Morte prematura (súbita ou inexplicada) antes dos 50 anos de idade devido a doença cardíaca em parentes de primeiro grau;
2) Incapacidade por doença cardíaca em parente de primeiro grau com menos de 50 anos de idade.
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CONHECIMENTO DAS SEGUINTES CONDIÇÕES EM MEMBROS DA FAMÍLIA
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Cardiomiopatia hipertrófica ou dilatada,
Síndrome do QT longo ou outra canalopatia, Síndrome de Marfan ou arritmia cardíaca grave.
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EXAME FÍSICO
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1) Presença de sopro cardíaco;
2) Alteração na amplitude dos pulsos femurais (afastar coarctação da aorta); 3) Características fenotípicas de síndrome de Marfan |
PEDIATRAS NA DIANTEIRA DO COMBATE AO SEDENTARISMO
É papel do pediatra estimular a atividade física em crianças e, mais ainda, orientar quanto ao uso de equipamentos eletrônicos nesta faixa etária, o que denomina-se “tempo de tela“. O ideal para menores de 2 anos é nenhum período de tela e dos 2 anos aos 17 anos um máximo de 2 horas por dia. Todas estas recomendações podem ser resumidas na Pirâmide de Atividade Física, que mostra de forma lúdica à criança como deve ser sua semana, estimulando que ela se movimente a maior parte do tempo.
Outro fato que deve ser lembrado é que hábitos adquiridos na infância podem se manter até a vida adulta. Estimular uma criança a praticar atividade física pode mudar seus hábitos por toda uma vida.
Referências
- Sociedade Brasileira de Pediatria. Grupo de Trabalho em Atividade Física. Promoção de atividade física na infância e na adolescência. SBP; 2017. Disponível em http://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/19890e-MO-Promo_AtivFisica_na_Inf_e_Adoles-2.pdf/ Acesso em 10 de dezembro de 2017.
- WHO | Global recommendations on physical activity for health. Disponível em www.who.int/dietphysicalactivity/factsheet_recommendations/enhttp://www.who.int/dietphysicalactivity/factsheet_young_people/en/ Acesso em 10 de dezembro de 2017.
- Centers for Disease Control and Prevention. 2008 Physical Activity Guidelines for Americans. Disponível em https://health.gov/ paguidelines/pdf/paguide.pdf Acesso em 08 de dezembro de 2017.