Hipertensão: o que Muda com as Novas Diretrizes da Academia Americana de Pediatria
Novidades nas novas diretrizes da AAP sobre hipertensão. O que muda para crianças e adolescentes?
A hipertensão é uma condição bastante comum no Brasil e no mundo. Estima-se que cerca de um em cada quatro brasileiros sofra da doença1, que é caracterizada por uma pressão arterial acima de 140/90 mmHg. Por não apresentar sintomas claros, a hipertensão pode causar graves problemas ao longo do tempo, como doenças cardíacas e acidente vascular cerebral.
A condição afeta adultos (maiores de 19 anos) em maior número, mas ocorre também em crianças e adolescentes. Um estudo recente mostrou que, nos Estados Unidos, cerca de 3,5% dos menores de 18 anos sofrem com hipertensão, o que equivale a mais de 1,5 milhão de jovens. Além disso, a mesma pesquisa mostrou que muitos casos de pressão alta nos jovens não são tratados adequadamente.
Com o objetivo de aprimorar o tratamento de hipertensão em crianças e adolescentes, a Academia Americana de Pediatria publicou no mês de agosto novas diretrizes3 baseadas em uma revisão de quase 15 mil estudos médicos publicados desde 2004 — ano em que as últimas orientações foram divulgadas.
“Essas novas diretrizes nos fornecerão ferramentas melhores para identificar e tratar pressão arterial elevada em jovens”, diz David Kaelber, médico e professor na Case Western Reserve University e um dos organizadores do estudo.
O principal tratamento recomendado pelas novas diretrizes continua o mesmo: mudanças no estilo de vida. A hipertensão está fortemente associada à obesidade e ao sedentarismo3, portanto as indicações incluem manter uma dieta saudável e realizar atividades físicas.
Há, entretanto, cinco principais mudanças neste ano.
DIRETRIZES PARA COMBATE À HIPERTENSÃO:
AS CINCO NOVIDADES
– A pressão arterial deve ser medida apenas em visitas anuais de prevenção. As diretrizes de 2004 recomendavam que o procedimento fosse realizado sempre que a criança fosse a um hospital, a uma clínica ou a um pronto-socorro. “Esse volume de testes fora do contexto preventivo e de visitas de rotina produziu muitos falso-positivos”, explica Kaelber. “Às vezes, as crianças estão com dor ou há outros fatores que fazem com que sua pressão arterial fique momentaneamente alta, mas isso não significa que elas têm hipertensão. [Monitorá-las] leva a uma preocupação desnecessária por parte dos pais e das próprias crianças. Essa nova diretriz também deve resultar em economia no sistema de saúde, ao reduzir monitoramentos desnecessários de pressão arterial”, argumenta o pesquisador.
– Pacientes obesos e acima do peso não devem mais ser considerados para o cálculo da pressão arterial média da população saudável. “Sabemos que essas pessoas são mais propensas à hipertensão; sendo assim, removê-las do cálculo para o que é “normal” significa que detectaremos mais crianças com peso mediano, mas que estão com hipertensão, do que com o modelo antigo. Isso gera o potencial de prevenir sérios problemas de saúde que elas poderiam ter no futuro caso não fossem diagnosticadas precocemente”, diz Kaelber.
– O diagnóstico de hipertensão deve ser feito, quando possível, por meio de um monitor ambulatorial de pressão arterial (MAPA), que monitora o paciente em seu cotidiano. Essa recomendação substitui a antiga diretriz de obter o diagnóstico após três medidas consecutivas de pressão no consultório do médico. Dessa maneira, evita-se o falso diagnóstico de hipertensão em casos em que o paciente fica nervoso por estar no consultório, o que pode elevar temporariamente a pressão arterial.
– Ecocardiogramas devem ser pedidos para crianças e adolescentes hipertensos apenas se o paciente tiver que tomar medicações para tratar a pressão arterial. Pelas diretrizes anteriores, o exame deveria ser requisitado para todos os pacientes, mas evidências mostram que o ecocardiograma não traz benefícios para pacientes jovens cuja pressão arterial pode ser controlada por meio de mudanças no estilo de vida, como alterações na dieta e prática de exercícios físicos rotineiros.
– Por último, os pesquisadores enfatizam que as novas recomendações foram desenvolvidas em harmonia com as diretrizes para tratamento de hipertensão em adultos. Assim, as definições de pressão anormal são as mesmas para pacientes que têm entre 13 e 18 anos de idade e para maiores de 18 anos. As antigas diretrizes, por terem sido desenvolvidas separadamente das diretrizes para adultos, apresentavam inconsistências: recomendava-se, por exemplo, que um adolescente de 17 anos com pressão arterial maior que 12/8 fosse diagnosticado com hipertensão; ao completar 18 anos, porém, a mesma pressão arterial seria considerada apenas elevada, ou o diagnóstico seria de “pré-hipertensão”.
Fique atento! Crie o hábito, caso já não o possua, de medir a pressão arterial de seus pacientes pediátricos nas consultas de rotina. Atualize-se e faça uma pediatria cada vez melhor. E não se esqueça de Compartilhar o Conhecimento!
REFERÊNCIAS
- “24% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA TEM HIPERTENSÃO”
- “HIPERTENSÃO ARTERIAL MATA QUASE 10 MILHÕES DE PESSOAS POR ANO”
- Martinez-Gomez D, Tucker J, Heelan KA, Welk GJ, Eisenmann JC. Associations between sedentary behavior and blood pressure in young children. Arch Pediatr Adolesc Med. 2009 Aug;163(8):724-30. doi: 10.1001/archpediatrics.2009.90.
- Link para as novas diretrizes: http://pediatrics.aappublications.org/content/140/3/e20171904