Amamentação e Odontopediatria: por que o aleitamento materno é benéfico ao desenvolvimento dos bebês?
Evidências do porquê o aleitamento materno melhora a saúde dos bebês e auxilia em seu crescimento saudável - inclusive com relação ao sistema estomatognático.
O leite materno fornece todos os nutrientes necessários para sanear as necessidades nutricionais dos bebês, tornando desnecessária a ingestão de alimentos sólidos e água nos seis primeiros meses de vida. Entre seis meses e um ano de vida, a amamentação natural deve ser complementada com outros tipos de alimentos.2
Veremos, a seguir, detalhamentos dos benefícios da amamentação tanto para a saúde do bebê quanto para os aspectos odontopediátricos.
BENEFÍCIOS DA AMAMENTAÇÃO NATURAL
Imunidade, laços afetivos, desenvolvimento craniofacial e mais
O leite da mãe tem sido considerado o melhor alimento para o recém-nascido do ponto de vista nutricional, pois reforça a imunidade do bebê contra doenças infecciosas e alérgicas e exerce importante papel na redução da mortalidade infantil.13
A amamentação natural tem sido incentivada não somente pelo leite materno ser o alimento mais completo e digestivo, mas também pela sua ação imunizante que protege o bebê de diversas doenças.3 Além disso, durante a amamentação ocorre um íntimo contato entre mãe e filho, havendo troca de amor, fortalecendo o elo afetivo mãe-bebê, o qual é importante para o desenvolvimento psicoafetivo da criança, ajudando o bebê a se adaptar ao novo mundo.4
O bebê que mama no peito da mãe recruta os músculos certos para o correto desenvolvimento craniofacial. Este procedimento…
- conduz interação das funções de sucção, deglutição e respiração;
- ajuda no correto desenvolvimento da musculatura da face;
- favorece a defesa imunológica;
- reduz o risco de mortalidade infantil;
- Ajuda na manutenção de uma coloração saudável da pele;
- contribui para uma curva de peso mais regular;
- regula a temperatura corporal e
- melhora a digestão.5
O QUE A FALTA DE AMAMENTAÇÃO NATURAL ACARRETA?
Problemas de desenvolvimento que podem ser prevenidos pela amamentação
A falta de estimulação adequada das funções orais e da sucção pode ocasionar alguns desvios ou modificações no desenvolvimento do sistema estomatognático, como as maloclusões, hábitos parafuncionais e a respiração bucal. Estes podem começar a se instalar em idades muito precoces, principalmente logo após o nascimento.9
A criança que não é amamentada ao seio tem a tendência de desenvolver a sucção digital, pois necessita exercitar a musculatura, já que a satisfação nutricional é mais rápida. Todo bebê possui ao nascer dois estados de fome: fome neural e fome fisiológica. A fome fisiológica mostra saciedade rápida, ao passo que a fome neural tem necessidade de sucção maior, justificada pelo tempo maior junto ao seio, mesmo com a fome fisiológica satisfeita.10
Crianças com menor tempo de aleitamento materno exclusivo desenvolvem, com maior frequência, hábitos orais nocivos, como chupeta e sucção digital, e possuem sete vezes maior risco de adquirir esses hábitos, quando comparadas com as crianças aleitadas no seio materno.11
Atualmente, a literatura a respeito da prevenção de hábitos bucais tem valorizado a amamentação natural por tempo adequado. O aspecto cultural de que chupar chupeta ou tomar mamadeira fazem parte da infância está tão arraigado no subconsciente coletivo que muitas famílias não conseguem evitar o hábito e outras até o incentivam.12
A importância do aleitamento materno para o desenvolvimento do sistema estomatognático
Mastigação, deglutição, fala e sucção
A importância do aleitamento materno para o desenvolvimento do sistema estomatognático tem como principais funções a mastigação, a deglutição e a fonoarticulação. No ato da sucção na mama, a criança utiliza-se de um esforço que faz com que haja a estimulação de músculos importantes, como pterigóideos, masseter, temporal, digástrico, gênio-hióideo e milo-hióideo, causando também uma fadiga que contribui para que a criança não adquira hábitos deletérios.
Já quando a criança é alimentada pela mamadeira, isso exige um menor esforço, estimulando apenas músculos bucinadores e do orbicular da boca. Amamentado de forma natural, o bebê faz cerca 2.000 a 3.500 movimentos mandibulares, enquanto que, através da alimentação artificial (mamadeira), os movimentos limitam-se a 2.000, fazendo com que o bebê acabe buscando outros meios para satisfazer o prazer emocional que a sucção traz (por meio de maus hábitos bucais, como a sucção do dedo e da chupeta).6
No ato da amamentação, o número de sucções durante a mamada pode variar de 5 a 30 por minuto, mas a cada duas ou três sucções a criança inspira, deglute e expira, podendo ser observados três aspectos fundamentais, estimuladores do crescimento e desenvolvimento facial:
- Respiração exclusiva pelo nariz, mantendo e reforçando o circuito de respiração nasal;
- Intenso trabalho muscular realizado quando o bebê morde, avança e retrai a mandíbula, fazendo com que todo o sistema muscular, principalmente os músculos masseteres, temporais e pterigóideos, adquiram o desenvolvimento e o tônus musculares;
- Os movimentos protrusivos e retrusivos mandibulares, realizados diversas vezes ao dia, exercitam ao mesmo tempo as partes posteriores dos meniscos e superiores das articulações têmporo-mandibulares, obtendo como resposta o crescimento póstero-anterior dos ramos mandibulares e, simultaneamente, a modelação do ângulo mandibular, fazendo com que a mandíbula se encontre em posição ideal para a erupção dos dentes decíduos em oclusão neutra.7,8
No ato de amamentar, a criança estimula um exercício físico contínuo que propicia o desenvolvimento da musculatura e da ossatura bucal, proporcionando o desenvolvimento facial harmônico. Isso direciona o crescimento de estruturas importantes, como seio maxilar, para respiração e fonação, desenvolvimento do tônus muscular e crescimento anteroposterior dos ramos mandibulares, anulando o retrognatismo mandibular.14
Além disso, o ato de mamar no seio materno impede alterações no sistema estomatognático, a saber: prognatismo mandibular, musculatura labial superior hipotônica, musculatura labial inferior hipertônica, atresia de pálato, interposição de língua e atresia do arco superior, e evita maloclusões, como mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e aumento de sobressaliência.15
BENEFÍCIOS ADICIONAIS
De respiração correta à articulação têmporo-mandibular
A amamentação proporciona à criança uma respiração correta, mantendo uma boa relação entre as estruturas duras e moles do aparelho estomatognático e proporciona uma adequada postura de língua e vedamento de lábios.16
Associada ao mecanismo de sucção, a amamentação desenvolve os órgãos fonoarticulatórios e a articulação dos sons das palavras, reduzindo a presença de maus hábitos orais e também de patologias fonoaudiológicas.17
O desenvolvimento da articulação têmporo-mandibular (ATM) durante o período em que os dentes ainda não erupcionaram também está relacionado à amamentação. Essa articulação fica prejudicada se houver um menor esforço muscular para extrair alimento —como ocorre na amamentação artificial—, causando uma anulação da excitação da ATM e da musculatura mastigatória do recém-nascido.16
Conclusões
A amamentação deve ser estimulada, pois cada mamada representa uma vacina para o bebê. O aleitamento materno fornece todos os nutrientes necessários, aumenta a proteção fisiológica e desenvolve estruturas ósseas, psicológicas e neurológicas —e isso não apenas para o momento atual, como também para todo o desenvolvimento da criança.
Diversos trabalhos mostram e concordam que o dentista, sendo um profissional da área de saúde, deve ser apto a orientar, tanto durante a gravidez quanto para as recém-mamães, as pacientes sobre a necessidade de desenvolvimento dos hábitos alimentícios corretos. Além disso, deve justificar e enfatizar o que pode ser alcançado com a amamentação exclusiva e quais as suas relações com o desenvolvimento do complexo mandibular e do sistema imunológico.18,19,20,21,22
REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
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