Estudo: Nicotina É Encontrada nas Mãos de 100% dos Filhos de Pais Fumantes
Análise das mãos e da saliva de crianças revela presença de nicotina e outros elementos tóxicos. Ambiente contaminado contribui para exposição.
Certamente você já ouviu falar de fumantes ativos e dos fumantes passivos. Os primeiros têm contato direto com a fumaça dos cigarros, em altas doses, e os passivos acabam por inalar partículas presentes no ar, aspergidas pelos fumantes. Mas, além deles, existem também os chamados ‘fumantes de terceiro grau‘. São pessoas que entram em contato com os elementos tóxicos dos cigarros que contaminaram um ambiente. Mesmo que o fumante tenha saído do local já há algum tempo, partículas presentes na fumaça se acumulam em objetos e tecidos, e podem contaminar outras pessoas. Neste último caso, as crianças são as maiores vítimas em potencial.
Um novo estudo demonstrou os perigos do fumo para crianças que convivem com pais fumantes. Níveis perigosos de nicotina foram encontrados em 100% das mãos das crianças analisadas, possivelmente devido ao contato com um ambiente contaminado.
PARTÍCULAS CONTAMINAM O AMBIENTE E SE MANTÊM POR ANOS
Esta é a conclusão de um novo e impactante estudo realizado por pesquisadores da Universidade de San Diego e do Cincinnati Children’s Hospital Medical Center, publicado na última edição do periódico científico BMJ Tobacco Control.
Este é o primeiro estudo a mostrar que altos níveis de nicotina podem ser encontrados nas mãos das crianças, mesmo quando os pais não estão fumando por perto
“Este é o primeiro estudo a mostrar que altos níveis de nicotina podem ser encontrados nas mãos das crianças, mesmo quando os pais não estão fumando por perto”, afirmou a dra. Melinda Mahabee-Gittens, médica na Divisão de Medicina de Emergência do Cincinnati Children’s e coautora do estudo.
“Os pais podem achar que fumar longe dos filhos já é o suficiente, mas isso não é verdade. Nossos resultados enfatizam a noção de que a única maneira de proteger as crianças da exposição à fumaça é parar de fumar e banir o cigarro de dentro de casa”, alerta a pesquisadora.
TODAS AS CRIANÇAS COM AS MÃOS CONTAMINADAS POR NICOTINA
O estudo selecionou crianças, de idade média de 5 anos, filhas de pais fumantes. Ao chegarem no consultório pediátrico, elas tiveram as mãos analisadas por um kit especial para detecção de nicotina. Foram testadas, também, para a presença de cotinina, um perigoso metabólito do tabaco, na saliva.
A exposição de crianças à nicotina e à cotinina pode causar infecções respiratórias e de ouvido, desencadear crises de asma severas e diversos outros problemas de saúde, de acordo com o CDC
Todas as crianças tinham quantidade elevadas de nicotinas nas mãos. 96% delas mostraram-se positivas para presença de cotinina na saliva.
Os testes foram realizados apenas em crianças que haviam sido levadas ao consultório pediátrico por apresentarem problemas possivelmente associados à inalação de fumaça, como rinorreia e dificuldades de respiração.
CONTAMINAÇÃO POR NICOTINA ACONTECE MESMO SEM FUMAÇA
Estudos anteriores já haviam estabelecido que resíduos de cigarros podem ser encontrados na poeira e recobrindo objetos e roupas nas casas de fumantes. Esta descoberta foi o ponto de partida para o estudo atual.
A Dra. Melinda explica que as crianças possuem um enorme ‘extinto exploratório’. Elas adoram tocar em quase tudo o que veem, manusear objetos, se arrastar pelo chão, inserir brinquedos na boca. Se seus pais fumam, então elas encontram-se expostas à uma ampla gama de poluentes eliminados pelos cigarros, e que acabam contaminando os cômodos atingidos pela fumaça.
De acordo com os pesquisadores, os resultados do estudo sugerem que a única solução para proteger a saúde e o desenvolvimento das crianças é evitar ao máximo qualquer tipo de contato dos pais com cigarros, dentro e fora de casa.
Nossos resultados enfatizam a noção de que a única maneira de proteger as crianças da exposição à fumaça é parar de fumar e banir o cigarro de dentro de casa
Mesmo produtos derivados de tabaco e que não fazem fumaça, como fumo para mascar, contaminam o ambiente. Um estudo publicado em 2013 no Oxford Journal’s Nicotine & Tobacco Research mostrou que a poeira das casas de quem consumiu tais produtos continha níveis significantemente maiores de nicotina e de outras moléculas tóxicas (possivelmente expectoradas) do que em casas de não fumantes.
Outros estudos anteriores demonstraram que resíduos de cigarro podem ser encontrados em um ambiente até cinco anos após a fumaça ter sido exalada. “A fumaça do tabaco não vai simplesmente subir aos céus e desaparecer”, afirma Georg Matt, professor na Universidade de San Diego que estuda os ‘fumantes de terceiro grau’ há anos. “Esta é a ilusão que a maioria das pessoas tem”.
Ler o Estudo do BMJ Tobacco Control